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O Fenómeno Televisivo (Parte 2)


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(Continua de Parte I referida em baixo em 'Links importante ----------------------------- -------------------------------------------------------
1) As condições de enunciação, selecção e tratamento das notícias impõe certas rotinas nas práticas de chefia e na construção das notícias que se tornam por isso responsáveis pela dependência dos governos e dos partidos políticos. Isto traduz-se na governamentalização da informação.
Exemplos:
Peso dos partidos e do governo na informação:
Espanha (fim da década de 80)
+ governo - 30% na TVE, 52% na TV3 (emissora da Catalunha)
+ partidos - 13% na TVE, 26% na TV3
Itália (início dos anos 90)
+ governos e partidos ? 40%
EUA (anos 90)
+ Presidência 25%
+ Partidos 10%
+ Internacional (sobretudo relacionado com a política externa) 50%
Portugal
+ mesma tendência
2) Em relação ao alinhamento e ao formato da informação, existem duas técnicas básicas em televisão: ou por micromontagem, por justaposição de notícias heterogéneas em torno das diferentes categorias; ou por macromontagem, por associação em torno de um assunto-chave que pode estar presente em todo o noticiário. Em termos narrativos, importa destacar a espetacularização e encenação da informação, e a adopção de técnicas de publicidade viradas para o divertimento televisivo. Geralmente não é estabelecida uma relação entre o diversos assuntos, surgindo as notícias na sequência narrativa como elementos desconexos.
BERNARD MIÉGE (Le JT) dizia sobre o telejornal francês que ele tinha sido forjado para conceber o consenso, e para os cidadãos criarem a ilusão de participação nos assuntos da nação e do mundo.
3) Segundo ELISEO VERÓN, o dispositivo de enunciação do telejornal, ao colocar o apresentador o apresentador que nos relata o real em contacto com o espectador numa relação olhos-nos-olhos, legitima também o real, que para ele, apresentador, é supostamente igual ao que é para nós próprios. O directo, que não permite a associação entre os factos e as causas, transforma-se em acontecimento, uma vez que não permite a problematização dos acontecimentos enquanto problemas. Privilegia-se a estratégia do fait-divers e da actualidade trágica, legitimando-se o acontecimento-sintoma em vez do acontecimento-latente.
Como reconheceu GÉRALD LEBLANC, a dramatização da actualidade é uma das componentes essenciais da história da informação de massa. A apresentação de catástrofes (naturais, sociais ou históricas) enquanto acontecimentos natureza imprevisível e incoercível, expõe claramente o princípio da predominância da mise en scéne dos efeitos sobre a análise das suas causas.
Outro vector da informação televisiva é o facto de a informação ser tratada, não pela pertinência do assunto, mas pelo efeito de série que contagiou o medium, seja pela originalidade do enredo ou pelo desempenho mediático dos protagonistas. Assim, a televisão estrutura a realidade em função, por um lado, de uma certa redundância dos assuntos e temas e, por outro lado, pela estabilização de um fundo semântico, de entidades e protagonistas, que é estruturado pela lógica serial.
Segundo ALAIN TOURAINE (?Communication politique et crise de representativité?, Hermés), a inflação da comunicação política no campo dos media é sintoma de uma crise de perda de representatividade dos políticos: ?Se a comunicação política adquire uma importância crescente, é porque a política não impõe mais nenhum princípio de integração, de unificação, ao conjunto das experiências sociais e que a vida pública extravasa por todos os lados a acção política.? (pág. 140). Consequência imediata é a entronização publicitária do corpo político e dos seus protagonistas.
As figuras públicas definem-se mais pelo seu desempenho mediático do que pelas suas capacidades políticas, facto que produz nas nossas sociedades a formatação do homem político através de um ajustamento dos dispositivos de comunicação à especificidade do desempenho televisivo da figura pública.
A personalização do poder através do desempenho político dos media, é avaliado não só pela prestação nos media como também interpretado e reavaliado pelo público através das sondagens. Segundo CHAMPAGNE (?Usages sociaux des sondages et nouvel espace politique?, Actes de la recherche en Sciences Sociales): ?Na medida em que os agentes do campo político crêem que as percentagens obtidas nas sondagens podem ser modificadas por «desempenhos mediáticos», uma parte da luta política foi assim deslocada, pelo menos no que se refere aos líderes políticos, para o terreno da imprensa e dos meios de comunicação modernos?. É, segundo Cádima, uma democracia ?catódica, plebiscitária, em permanência? que daí emerge.
A televisão parece fazer do cidadão/espectador um observador privilegiado do espaço político. Mas será que o actor político expõe na televisão toda a transparência do seu desempenho? Não será ele (desempenho) controlado e seleccionado em função de benefícios próprios? Poderá a televisão ser instrumentalizada pelos actores políticos como mecanismo de autolegitimação?
Segundo Cádima ?a virtualidade de o sistema televisivo se transformar numa espécie de ágora electrónico através, exactamente, desse ?uso democrático?, não tem sido verificado porque, salvo raríssimas excepções, o campo político tem vindo a manter a televisão (?) rigorosamente vigiada, impondo, directa ou indirectamente, uma adequação da produção da informação às necessidades do sistema político dominante e das suas estratégias de comunicação, criando o seu megaefeito de veridição, o seu regime de verdade.? (pág. 148)
MAURICE DUVERGER disse, no entanto, que o poder da televisão é tal que, se não se adapta o seu regime ás estruturas políticas do Estado, serão estas a adaptar-se ao regime da televisão. 



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