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Estudos feministas: um esboço crítico


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Cecília Sardenberg inicia sua fala com a explicitação de seu lugar de enunciação, de uma trajetória que veio do movimento feminista para a academia, com influência de sua experiência nos Estados Unidos na década de 70. Deixa também clara a postura de transformação social, portanto de militância, que os estudos de gênero por ela abordados necessariamente comportam. A proposta geral dessa palestra foi a identificação de tendências nos estudos feministas no último quarto do século XX, com a reflexão sobre os avanços e impasses mais relevantes, restringindo sua apresentação aos estudos que lidam com uma perspectiva feminista sobre a questão do gênero, deixando de fora o que a autora considera ?estudos de genéricos?. A autora observa uma mudança de tom nesses estudos: do panfletário, nas décadas de 1960 e 1970, para o acadêmico mais sofisticado contemporaneamente.

Cecília Sardenberg alerta que essa sofisticação discursiva é um dos fatores que têm contribuído para certo distanciamento entre o movimento social feminista e os debates e reflexões acadêmicas. Indica que, a partir de meados dos anos de 1970, o objeto ?mulher?, idealizado e essencializado, se desloca para ? mulheres?, quando surgem os women?s studies, quando se fazem vários registros das experiências das mulheres, desafiando o androcentrismo vigente nas humanidades. É ao final dos anos de 1970 que o conceito de gênero é elaborado e conceituado como a construção social das identidades sexuais e como objeto dos estudos feministas. Essa mudança de paradigma permitiu englobar ?a mulher? e mulheres e homens como construções históricas, dando lugar a novas epistemologias feministas.

O conceito de gênero, portanto, abriu os horizontes para a desconstrução e para a desnaturalização do masculino e do feminino. Por esse viés, chega-se a pôr em crise a relação entre o feminismo modernista, fundado sobre idéias generalizadoras e dicotomias hoje ultrapassadas, com os estudos de gênero então nascentes. O conceito de gênero também terá um grande impacto sobre a desconstrução do determinismo biológico. Porém, nem tudo é questão de gênero. Daí a autora ressaltar a contribuição das feministas negras, que deslocaram o debate entre marxistas e feministas (ou entre sexo e classe) para a articulação de gênero, raça e classe, bem como as diferenças entre mulheres, não apenas entre homens e mulheres. Assim, outros elementos se articulam com gênero nas relações sociais, a saber: classe, raça, etnia e idade, dentre outros. Cecília Sardenberg aponta ainda a contribuição dos pós-estruturalistas e pós-modernistas, com ênfase em Michel Foucault, para a desestabilização epistemológica do feminismo, o que levou a se trabalhar mais com questões relacionadas aos significados e às representações, com a consequente perda da ?inocência? e a instabilidade das análises de experiências sociais fragmentadas. É o que se pode denominar de virada dos estudos feministas para a cultura. Finalmente, a autora faz um alerta para a possível superficialidade das análises nesse novo paradigma, caso não sejam questionados e investigados os contextos de produção e as estruturas sociais que sustentam essa guinada epistemológica. Reconhece as contribuições das vertentes feministas dos anos 70 ? liberal, socialista e radical ? e prega que não se deve ficar apenas na análise dos significados, mas na promoção de intervenções nas estruturas sociais que continuam a oprimir as mulheres.

Esse texto é a transcrição revisada da comunicação apresentada por Cecília Sardenberg durante o I Simpósio Cearense de Estudos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero, promovido pelo NEGIF/UFC, em Fortaleza, Ceará, em 2002. Publicado em AMARAL, Célia Chaves Gurgel do (org). Teoria e prática dos enfoques de gênero. Salvador: REDOR, Fortaleza: NEGIF/UFC, 2004. p. 17-40.




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