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A farsa de Inês Pereira em foco


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A peça foi escrita devido a um desafio feito pelos nobres. Cansados de serem desmoralizados nas peças de Gil Vicente, acusam-no de plagiar o teatro espanhol. Em resposta, ele sugere que lhe seja dado um tema, sobre o qual escreverá uma nova peça. O tema foi o ditado popular: ?Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube?. A peça foi representada pela primeira vez ao rei D. João III, no convento de Tomar em 1523. A história inicia-se com Inês Pereira cantando e fingindo que faz um bordado. Reclama do tédio deste serviço e de sua vida. A mãe, ouvindo-a, aconselha-a ter paciência. Lianor Vaz aproxima-se contando que um padre a assediou no caminho e diz que lhe trouxe uma proposta de casamento e lhe entrega uma carta do pretendente, Pero Marques, filho de lavrador rico. Aceita conhecê-lo. Acha-o desinteressante e recusa o casamento. Sua esperança centra-se nos Judeus casamenteiros, a quem encomendou um noivo. Depois de haverem procurado muito, dizem ter encontrado um rapaz. Antes de vir conhecê-la, o Escudeiro, pretensioso e falido, combina com seu Pajem as mentiras que dirá para enganar a moça. O plano dá certo e se casam. Mas, logo, o marido revela-se um tirano. Ele vai para a guerra, deixando-a guardada pelo seu Pajem. Três meses depois, Inês recebe uma carta, avisando-a de que o marido morrera. Livre, não perde tempo. Aceita casar-se novamente, agora com Pero Marques. Recém casada, encontra um ermitão pedindo esmolas, que se identifica como um velho apaixonado. Prevendo prazeres nos braços do amante, segue em romaria carregada nas costas por Pero e cantando felicidades futuras ao lado do marido com vocação para ser traído. Construída em versos com sete sílabas poéticas, a obra não tem um narrador, mas rubricas ou anotações à parte que servem de orientação para os atores ou para o leitor. São elas que esclarecem as questões de vestimenta, cenário, tempo, posição das personagens etc. A farsa estrutura-se a partir de sete quadros que se sucedem: apresentação da vida de Inês, ainda solteira, com a mãe; conselhos de Lianor Vaz sobre o casamento; apresentação de Pero Marques; entrada do escudeiro; as desilusões do casamento; a viuvez de Inês Pereira e a vida de casada com Pero Marques. As cenas vão tendo seqüência não dando a idéia de tempo decorrido entre uma e outra. A única menção temporal feita é a do período que o Escudeiro foi à guerra até a chegada da notícia de sua morte: três meses. A maioria das cenas se passam num mesmo espaço especificado apenas como a casa de Inês. Todos os personagens acabam passando por ali. Em alguns momentos, os personagens vêm se preparando no caminho, mas de nenhum desses lugares há indicações cenográficas específicas. Há a predominância do discurso direto como meio para criar a trama. Uma vez que as personagens falam diretamente, o autor soube usar essa artimanha para garantir o humor. Em cada discurso uma encontramos marcas na delimitação de suas características. A cultura popular está, assim, presente nas falas das personagens e confirma as atitudes corrompidas no cotidiano social: a sexualidade, o desmascaramento do comportamento do clero e a intromissão na base da família de alcoviteiros (as). Engenhosamente, Gil Vicente constrói suas personagens, fazendo sua crítica aos tipos sociais, tentanto moralizá-los. Inês Pereira é a personagem central, jovem voltada para os prazeres carnais e ansiosa por realizá-los. Representa a moça casadoira, fútil, preguiçosa e interesseira. Casa-se duas vezes apenas para livrar-se do tédio da vida de solteira. Apesar de seu comportamento impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus passos. É resultado do sistema social do qual faz parte, por isso mesmo, um personagem atemporal.O diálogo de Lianor Vaz com Inês permite perceber tanto o papel da alcoviteira, a mulher que ajeita casamentos, revelando que a base da família está corrompida. A Mãe, apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e se toma cúmplice das suas atitudes. Sua fala é conservadora. O primeiro pretendente e futuro marido, Pero Marques, é o parvo, ?o asno que me carregue?. Apesar de ser ridicularizado por Inês, espera-a, casa-se com ela e sujeita-se aos seus caprichos e traições. A figura do parvo é freqüente nas peças do dramaturgo, garantindo, por meio da sua bobice e ingenuidade o riso fácil. Além disso, ressalta de modo implícito a inversão de valores da sociedade. Já, o Escudeiro, é o ?cavalo que me derrube?. Mostra-se falso, fingido, mascarado e além de tudo pobre e endividado. Mesmo assim, não perde a pose tendo até mesmo um Pajem para servi-lo, o qual serve para realçar suas falcatruas e suas mentiras a fim de enganá-la e conseguir o casamento. Preocupado em arrumar uma boa esposa, finge, dissimula, engana, criando uma imagem de ?homem discreto? que depois se revela um tirano, aprisionando a jovem dentro de casa. Termina morto por um pastor. É outra figura corriqueira na galeria de tipos vicentinos, retratando a busca pela vida fácil num casamento rendoso. O Ermitão é um padre e antigo flerte de Inês, cuja característica realça as intenções de traição da mulher e o caráter promíscuo do clero. Finalmente, Latão e Vidal são os judeus casamenteiros. Seres marginalizados, aparecem para realçar o tom cômico da peça e, assim como a alcoviteira, desmascarar a hipocrisia dos casamentos arranjados.


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