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A estrutura de Ana Terra


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Em ? Ana Terra?, o narrador é heterodiegético, ou seja, narra em terceira pessoa, de fora da história contada. A narrativa é quase todo o tempo de focalização zero porque o narrador é onisciente e possui uma visão que abarca o todo, não centrando o foco narrativo em nenhuma personagem específica, excetuando poucos momentos em que há discurso indireto livre. O tempo da narrativa é ulterior, pois conta fatos ocorridos no passado. Apesar de seguir uma ordem cronológica, há em alguns momentos, no decorrer da obra, pequenas analepses, que expressam as lembranças das personagens. O discurso é predominantemente direto ou narrativizado, isto é, as personagens falam diretamente. Mas observamos, em determinadas ocasiões o discurso transposto, ou indireto e indireto livre. O tempo da diegese é bem maior do que o da narrativa, pois é a história de Ana Terra desde a sua juventude até a velhice, contada em poucas páginas. Assim, percebemos várias elipses, ou saltos narrativos sobre períodos da história, como o exemplo abaixo, quando Ana e o índio têm seu encontro amoroso à beira da sanga e logo a história salta, sem maiores detalhes, para os dias seguintes. Há dois espaços importantes. O primeiro é a estância do pai de Ana, onde se encontravam o rancho da família Terra e a sanga que serviu de cenário para o amor da moça com o índio. Esse é um espaço no qual domina um tempo mítico, em que a passagem do tempo não pode ser acompanhada. Não há calendários ou relógios. Simboliza um momento anterior ao mundo civilizado, o das origens. O segundo espaço, ao contrário, é o da civilização. Um pequeno povoado, onde já podemos ter noção do tempo em que nos encontramos. Ana Terra e Pedro Missioneiro são a personagens que representam o fundamento daquilo que será, um dia, a família Terra Cambará. Ao conhecer o índio, a jovem experimenta sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que se sente atraída por ele, lhe tem repulsa. Mas aos poucos Pedro, ao som de sua flauta, a vai seduzindo. Maneco, homem que possui a rigidez da terra, também se deixa envolver, de certo modo, pela música do missioneiro, pois é justamente após ouvi-lo tocar que o velho resolve devolver a faca do índio, o que pode ser encarado como uma prova de confiança, não sem algumas reservas, como convém a um homem do tipo de Maneco Terra. Ana e Pedro representam a união da realidade concreta e duradoura com o sonho. Ela vivia isolada na estância e possuía pouco conhecimento do mundo, ele foi o forasteiro que veio trazer-lhe um pouco de fantasia. Mas as personagens masculinas da família Terra cumpriam a função de ?podar? o crescimento da semente do sonho no coração da jovem. Assim que ela engravida de Pedrinho Terra, os três homens da família eliminam o índio, fazendo com que Ana volte ao seu mundo de trabalhos sem ilusões. A situação somente se modifica quando, após um ataque de castelhanos, todos os homens que ainda permaneciam na estância são assassinados e Ana resolve ir ao encontro de uma nova vida, deixando para trás seus mortos. É nesse momento que passamos ao segundo espaço da narrativa, o da civilização. Ana começa uma nova etapa de sua existência. Agora é possível acompanhar a passagem do tempo, olhar-se no espelho e conviver com algo mais próximo de um mundo civilizado. Entretanto, sua sina de esperar não é interrompida e, como sabemos, perpetuar-se-á na vida de sua neta Bibiana. Essa é, afinal, a sina das mulheres da família. O confronto que perceberemos entre homens e mulheres, no decorrer de toda a obra O tempo e o vento, pode ser traduzido em oposição entre vida e morte. As mulheres são as geradoras de vida, os homens são os causadores de morte. No episódio ?Ana Terra? podemos perceber esse antagonismo em diversos momentos, pois Ana, tolhida pelos homens da família, em muitos momentos deseja a morte, controlando-se por causa do filho ? instinto de preservação ?, mas ao deparar-se com os parentes mortos, é tomada por uma imensa vontade de viver, nem que seja por teimosia. As personagens de ?Ana Terra? não possuem complexidade psicológica, são planas como é apropriado a uma história que conta as origens de um povo e, portanto, remete a um tempo mítico. Ao cumprir a missão de ajudar a fundar Santa Fé, levando consigo o filho que será o pai de Bibiana, peça fundamental para o surgimento dos Terra Cambará, Ana Terra encerra o seu ciclo na história, o ciclo que se repetirá através da sucessão de gerações e através da repetição contínua do antagonismo entre os homens e as mulheres, entre a vida e a morte e entre o tempo e o vento.

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