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"Palavras"


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Uma suave névoa aproximou-se de meu rosto, fazendo me respirar o aroma quente e doce de maçã verdinha. Observo a névoa/fumaça evaporar se de encontro aos meus olhos e, ao primeiro gole, percebo que exagerei no mel. Sorvo o chazinho bem devagar...ao som de Billy Holliday.Não saberia quando, em minha vida, não apreciei chazinhos, noites frias e Billy. Vou até à janela e percebo que nessas noites ? e somente nessas ? podemos ter a plena sensação de fazer parte de um mundo infinito. Uma estrelinha, bem pequenina e brilhante, parece murmurar algo...peço a ela para repetir e ouço, nitidamente, tão suave como a canção que continua tocando...:?eu te convido para a alegria de um porto agarrado à fúria do alto mar...?que prazer indescritível nessa frase. Que bela metáfora, digo a mim mesmo e à estrelinha brilhante. É Neruda! Estaria ele desejando que Matilde aceite um convite para a Alegria? Lá...em ?Isla Negra??Mas são contrários que se aproximam nesse poema...o Porto...o Mar...tão diferentes! Tento, ainda, olhando para a estrelinha, agora calada, desvendar esse verso...conseguirei? Reparo em como é árduo. Extremamente árduo, conhecer o outro. Não há caminhos, trilhas. Tudo é floresta intocada. Existe, pelo mistério do inédito, uma curiosidade, mas nada dá-nos coragem suficiente para ir além. Preferimos, sempre, a superfície. Como Portos ou como Mar, ainda não percebemos o convite do Poeta para a alegria e nem sequer imaginamos a alquimia que poderia haver nessa aproximação. Continuamos ? apressadamente ? a caminhar sozinhos. Sozinhos e ansiosos pelo outro. Somos príncipe, somos sapo, herói, vilão. Somos porto e somos mar, mas, envolvidos pelo medo, vestimos nossa armadura medieval e, não desvendando a metáfora, não vendo no outro um convite(nenhum convite), imaginamo-lo como a um dragão perverso a ser destruído. Por que preferimos não decifrar a metáfora e deixar o outro bater...bater...arrebentar a porta para, então, o expulsarmos definitivamente? Por que tememos tanto ir mais longe? Mergulhar nas profundezas do mar e sentir-se envolvido úmido e vivo, se somos portos? Incapazes da tentativa, não acreditamos ser para o outro mais do que um acaso.Jamais poderemos acreditar ? ouvir o Poeta-estrela e perceber que somos uma escolha especial...um deslumbramento? Que somos Porto e Mar. Seremos algum dia capazes de acreditar que podemos receber um convite à Felicidade? Convite à Felicidade. Piegas. O outro é sempre ?la muerte? dos sonhos.E, enquanto penso nesse encontro com o outro e nos obstáculos que criaremos para não decifrar qualquer convite, o tempo cumpre melhor que nós o seu destino. Reflito, ainda, acerca da beleza indizível das palavras que poderiam ter sido ditas, mas, enjauladas, enfureceram-se e serão, pela eternidade, destruição. Ah! Como é mágica, poderosa, doce e frágil a palavra dita e como poderia ser o seu afago em meu rosto, em seu rosto, em nossas Almas. Tento afastar-me da janela e acender a luz para que as trevas se apossem de mim e eu esqueça o que uma estrela brilhante murmurou, mas a beleza dessa descoberta deixa-me comovida. Eu quero a Luz dessa noite infinita! Estaria ? estaríamos ? decifrando o poema? Amanhã cedo, o chá já estará frio, a estrelinha, adormecida, aconchegará novamente o Poeta, Billy terá emudecido, mas haverá o Outro e as palavras ditas ? metáforas decifradas ? que nos aproximarão...para sempre... (Matilde decifrou a metáfora e eles foram felizes... sempre!)


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