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"O QUE É LITERATURA" (Parte II)


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Após a composição da obra, o escritor encontra limites: pode avaliar sua criação e seu efeito nos receptores, porém não pode sentir este efeito como o próprio receptor. Há um vínculo de dependência que se instala na obra. O escritor é a causa eficiente da obra, condição de sua existência; mas é extremamente necessária a figura do leitor.
O leitor deve existir, pois o escritor não escreve para si mesmo. O escritor necessita de um agente externo que veja a sua obra. Ademais, com a inexistência do leitor a obra (como objeto) também inexiste: o leitor faz da obra um objeto.
A obra é inacabada, um processo cíclico; pois além de depender do leitor para existir como objeto, é construída pelos sentimentos e pela subjetividade (diferentes entendimentos) deste agente externo. O leitor complementa ou finaliza a obra: a obra literária é um apelo que se concretiza a partir de sua liberdade; ou seja, sua liberdade é constitutiva do objeto.
Este apelo que é a obra literária (obra de arte) é apelo do autor ao leitor. Como apelo, vai além de mera solicitação à liberdade do leitor: o autor apela à doação do leitor, espera que o leitor reconheça a confiança que lhe foi depositada e retribua essa confiança em doação sincera. A imaginação do leitor é assim ?chamada? a compor e completar a obra apresentada; sua imaginação não é empreendimento, se torna engajamento.
?A obra de arte é valor porque é apelo? diz o autor na página 41. O valor da obra de arte está em ser este apelo, em ser este objeto que jaz inacabado enquanto houver leitor que nele deposite subjetividade e sentimentos, em se apresentar para o leitor em liberdade de ação e/ou colaboração conforme sua própria imaginação. Em seu trajeto peculiar o leitor pode fantasiar sobre a obra em liberdade, pois o autor já a fantasiou de antemão e esta fantasia da criação rende ao leitor a possibilidade de reinventar.
Além disso, ao deleitar-se com uma obra dispondo de leveza e liberdade, o leitor é ?presenteado? com o prazer estético. É certo que a alegria estética, quando aparece, indica a completude da obra. Mas não se resume a isso: também o leitor, mediante o prazer estético conferido pela obra, se conecta essencialmente com o mundo.
Isso significa que a alegria estética é prazer porque traz uma noção de proximidade da realidade. Trata-se de uma consciência imageante do mundo como nosso, próximo. Se de um lado o autor cria para conectar-se essencialmente com o mundo; do outro, ao gozo do prazer estético o leitor recebe o mundo como familiar.
O pensamento chave que o autor parece dizer é que o ato de escrever tem razão de ser, pois não lida com aspectos isolados que se cruzam mediante a obra. Mais que isso, as exigências mútuas próprias da relação autor-leitor fornecem à obra um cunho de generosidade, colaboração e resultam em uma circunstância maior: o resgate ou adquirimento da essencialidade em relação ao mundo.
A relação autor-leitor abre as portas da estética para o caráter moral. O cunho moral da estética é justamente o fato de a obra de arte depender da confiança entre duas liberdades distintas que - pela arte - se unem e se conectam.
A leitura é senão a soma das contribuições destes dois agentes. É a soma da percepção com a criação: a primeira confere espírito à arte de escrever e à leitura, a segunda cria a obra conferindo sentido à arte.


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