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Felicidade - Uma história


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 O BEM SUPREMO


A felicidade é o que acontece conosco, e não temos controle sobre isso. Esta é, em uma linha, a compreensão dos gregos antigos e de boa parte do mundo da Antiguidade. As multidões que arrancavam a duras penas sua sobrevivência do solo dos reis persas ou egipcios, também viviam em um mundo precário, sustentadas por seus superiores na escala social. A maioria era forçada a aceitar o que lhe chegava, não se atrevendo a pensar que talvez fosse capaz de alterar suas circunstâncias ou influenciar de forma significativa os acontecimentos de sua vida. Era mais fácil, e bem mais prudente, assumir o pior e torcer para que as coisas melhorassem, deixando a felicidade para os deuses.


Essa visão fatalista predominava desde tempos imemoriais, Aguçada e refinada no século v a.C. por Heródoto e pelas peças trágicas de Atenas, a idéia teve sua expressão consumada nessas obras. Mas, ironicamente, no mesmo local e na mesma época, uma nova perspectiva de felicidade tomava forma. Em seu nível mais básico, essa visão sustentava que os seres humanos podiam ter a expectativa de influenciar o destino por meio de suas próprias ações. A História de Heródoto, é um relato heróico da vitória dos gregos sobre os exércitos do Império Persa no início do século v a.C., uma façanha obtida em grande parte devido à sua coragem, sabedoria e empenho. O próprio Heródoto esforça-se para valorizar esse ponto, exaltando o amor grego pela liberdade. E, se a derrota de um inimigo que ameaçava escravizá-los não fosse o bastante para atestar o poder da ação coletiva, a própria vida da Atenas do século v a.C. o era. Foi lá, na pólis ou cidade-Estado ateniense, que o mundo testemunhou a invenção de um novo tipo de governo - a demokratia, de demos (povo) + kratos (poder).


A democracia era apenas uma entre as muitas variedades de autoridade exercidas nas centenas de cidades-Estados da Grécia antiga. Elas iam desde o reinado hereditário até a aristocracia, passando pela oligarquia e pelo domínio de um chefe ou homem forte, o tyrannos.  Mas quase todas tinham alguma determinação para que os cidadãos participassem diretamente nos assuntos da pólis, fosse pela aprovação das decisões de líderes militares, pela participação em tribunais de justiça, votando medidas de relevância pública ou através do debate institucionalizado. Como observa um destacado historiador, a "política", no sentido de "participação direta na tomada de decisões racionais após discussões", era "crucial para todas as cidades gregas". No início do século v a.C., a presença de algum tipo de autogoverno era uma característica específica da vida política da Grécia. Mas foi acima de tudo na pólis de Atenas que o processo de autogoverno avançou mais. Apoiada em um sistema legislativo que havia sido inicialmente estabelecido pelo juiz Sólon no princípio do século vi a.C., que depois foi consideravelmente ampliado pelo reformador Clístenes em 508 a.C., Atenas foi superando aos poucos a usurpação dos tiranos e a resistência das oligarquias e estendendo a base de seu governo. No fim do século v a.C. essa extensão era significativa, englobando cerca de 4 mil cidadãos homens adultos que tinham o direito de participar diretamente das votações e dos debates da assembléia geral soberana, a ecclesia. 

O general Péricles, um reformista do século v a.C., tinha, portanto, bons motivos para ter muito orgulho de sua terra natal, como gabou-se para seus cidadãos em uma oratória famosa de 431 a.C., quando Atenas lutava a Guerra do Peloponeso contra Esparta: Autoelogioso e seletivo, omitia muitas coisas. O general não mencionou o fato de que o mesmo império ateniense que levou tantas riquezas à metrópole dominava suas colônias com mão-de-ferro. Nem tratou do perturbador fato de que cidade tão "livre" tenha sido construída à custa dos escravos, que somavam até 100 mil pessoas no fim do século iv a.C.; ou de que as mulheres e os estrangeiros não gozavam de nenhum dos direitos da cidadania masculina. Ainda assim, e vistas pelos padrões da época, as conquistas de Atenas eram inegavelmente imensas. Até o observador mais negativo ficaria inclinado a perdoar Péricles em seus exageros e admitir que ele tinha razão ao afirmar, ao final de sua oratória: "Em suma, digo que nossa cidade, em seu conjunto, é a escola de toda a Hélade e que, segundo me parece, cada homem entre nós poderia, por sua personalidade própria, mostrar-se auto-suficiente nas mais variadas formas de atividade, com a maior elegância e naturalidade" Embora seja simplista dizer que a democracia ateniense foi a causa da emergência da felicidade como um novo e aparentemente atingível objetivo humano, foi em Atenas, na Atenas democrática, que pela primeira vez indivíduos adotaram essa grande e sedutora meta, atrevendo-se a sonhar em buscar - e obter - a felicidade para si. Não há como não admitir uma certa conexão entre o contexto e o conceito, entre uma sociedade na qual os homens livres se acostumaram, pela inquisição racional e pela deliberação, a decidir as coisas por si sós e o esforço para ampliar ainda mais esse autodomínio, até para o terreno há tanto tempo pertencente aos deuses. Libertados, pela prosperidade ateniense, da necessidade de guiar a vida apenas pela busca do sustento, alguns afortunados se deram ao luxo de voltar sua atenção para a busca de outras coisas.





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