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Algumas aproximações entre Descartes e Platão (1)


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Estes são dois pensadores distantes aproximadamente vinte séculos no tempo, mas que possuem várias possibilidades de aproximações teóricas, sobretudo quando utilizamos como fio condutor do estudo de suas obras as questões epistemológicas ligadas à dialética (platônica) e ao ceticismo lógico (cartesiano). Dentre estas múltiplas possibilidades de entendimento da filosofia (e, mais precisamente, da perspectiva epistemológica) destes filósofos, procurarei nas linhas que seguem desenvolver um breve ensaio a respeito do papel do diálogo e da dúvida metódica como possibilidades de investigação epistemológica na obra destes verdadeiros ?numes? do conhecimento humano.

1 ? A dialética como fundamento da perspectiva epistemológica platônica

A filosofia platônica, conforme é sabido constrói-se mediante o emprego de alusões constantes a uma dimensão que estaria para além da concretude do mundo material, e que é denominada por Platão mundo das idéias . Este mundo das idéias seria a expressão mais pura e acabada do conhecimento acerca de todo e qualquer elemento da realidade, e a partir dele tudo o que existe e é percebido pelos sentidos é copiado e trazido para o mundo sensível em que nos movimentamos e existimos. No mundo das idéias se situam as ?formas perfeitas?, as quais dariam origem a idéias como: o bem, a verdade e a sabedoria. Tais idéias não se concretizariam no mundo sensível mas seriam apreensíveis pela razão, propriedade da alma individual, vista por sua vez como um Daemon (gênio) interior. A razão seria propriedade que permitiria ao gênio interior se lembrar do conhecimento da verdade a respeito dos entes inteligíveis (componentes do mundo das idéias). Platão utiliza a idéia de lembrança quando se refere ao processo de aprendizado do gênio interior por entender que este procede do mundo das idéias e, em dado momento, vem a juntar-se a um corpo material de modo a constituir um indivíduo completo.

Como forma de se aproximar do conhecimento da verdade, Platão (e, talvez, Sócrates, se considerarmos a possibilidade da existência histórica deste personagem) se utiliza da dialética, especialmente como uma forma de definir o ponto de partida de toda investigação mediante o confrontar dialógico dos argumentos. Vejamos como a noção de dialética em Platão se encontra expressa nas palavras deste filósofo constantes do diálogo Fedro:

Abarcar num só golpe de vista todas as idéias esparsas de um lado ou do outro e fundi-las numa só idéia geralmente afim de poder compreender, graças a uma definição exata, o assunto de que se deseja tratar (p. 106).

A partir da análise desta prescrição platônica, podemos ser levados a crer que Platão associa diretamente regras da lógica a imperativos de homogeneização e organização discursiva como forma de empregar a dialética enquanto instrumento de compreensão do mundo. A esse respeito, é interessante mencionar que, em trabalho a respeito do diálogo Crátilo de Platão, Maria Aparecida Montenegro (2001) afirma que:

Conforme apontam vários de seus diálogos, o trabalho do mestre/filósofo consiste em persuadir a alma do aprendiz/discípulo na direção do conhecimento através de belos discursos e exercícios dialógicos de perguntas e respostas<...>. Dado que esse trabalho de psicagogia<...>, que coincide comum a verdadeira terapia pela palavra<...>, deve levar em conta a especificidade de cada alma a ser persuadida (ou purificada), tal que para cada alma deve haver um discurso que melhor lhe convenha, não pode haver conhecimento sem a intervenção da linguagem (MONTENEGRO, 2001, p. 376) .

Deste modo, tomando como base a reflexão desenvolvida pela referida autora, pode-se dizer que ao associar o método de raciocínio dialético enunciado no Fedro com a mediação do discurso dialógico, tal como visto em todos os diálogos platônicos, é possível afirmar que a epistemologia nesta perspectiva se orienta de maneira a desenvolver a especulação filosófica em um enfoque dialético através da linguagem, utilizando o diálogo como ferramenta fundamental para tal empreendimento.



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