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"ATOS DE REFERENCIAÇÃO NA INTERAÇÃO FACE A FACE"


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A referência não pode ser vista apenas como um produto da língua, na verdade, ela faz parte do complexo processo de interação entre sujeitos envolvidos nas atividades enunciativas. Tal processo interacional é sempre seguramente controlado pelos participantes, que conduzem a construção de uma referência em comum entre eles, para isso sendo fundamental fatores como a cognição e a contextualização, entre outros.
Tal referência se apresenta como um ?objeto de discurso? e não precisa ser necessariamente correspondente a um ?objeto do mundo? já existente. Não é função da referência ser um ?espelho do mundo?, uma imagem perfeita de algo já existente, pois está mais relacionada a intenção dos falantes que a constroem do que aos elementos da língua utilizados para isso.
Ver a referência unicamente como um item lexical, ou seja, como uma ?convenção lingüística? estática, invariável é descartar todos os fatores que, na realidade, a tornam possível a criação de uma significação comum entre os sujeitos envolvidos na situação de comunicação, como, por exemplo, o contexto e a interação.
Esta visão de língua(gem) desconsidera toda e qualquer influência que o contexto possa exercer no ato da comunicação, limitando a língua a um instrumento formal, autônomo e independente, tendo por base apenas os conhecimentos estruturais e gerativistas da língua estudada.
O uso da língua é ação conjunta é coordenada, na qual os sujeitos envolvidos se dispõem a colaborar mutuamente para a construção do sentido desejado. Os enunciados produzidos sempre estarão definidos e determinados pelos contextos de produção em que estão inseridos.
Em ?língua como espelho? trata-se de entendê-la como representação exata do mundo, um reflexo tal e qual e, portanto, ligado à visão de ?produto? pronto e imutável já mencionado acima; enquanto em ?língua como lâmpada?, tem-se a ação da luz sobre o mundo, não estática e variante, dependendo da posição tanto da luz, quanto do objeto iluminado, assim como a língua depende de vários fatores sócio-histórico-culturais.
Conhecer todos os elementos formais da língua não garante o sucesso do processo de referenciação. Um mesmo enunciado produzido com os mesmos elementos formais pode ter inúmeras e diferenciadas interpretações, tomando por base apenas o contexto enunciativo de cada um deles.
Para que esses diferentes enunciados possam ser corretamente (?) interpretados em seus contextos enunciativos, muitos outros conhecimentos devem ser compartilhados pelos interlocutores e todos os envolvidos devem pressupor ou fornecer tais conhecimentos.
A ?interpretação correta? como equivalente de ?interpretação pretendida pelo enunciador?, só poderá ser garantida se ambos os interlocutores compartilharem previamente uma gama de conhecimentos ou se estes forem construídos colaborativamente durante o processo de interação.
A referência nunca pode ser tratada como algo externo ou desconectado à interação e ao contexto situacional, pois são estes fatores, entre outros, que delimitam e determinam a construção de seus referentes e sentidos.
Para que a interação pela língua aconteça, os interlocutores precisam ter muito mais do que apenas os elementos formais da língua em comum, a cultura, determinadas crenças, valores, e principalmente o contexto situacional e alguns conhecimentos prévios, são essenciais para a construção mútua dos referentes e sentidos.
Além de terem esses fatores em comum, é necessário também que todos os participantes pressuponham a posse de tais conhecimentos nos outros interlocutores, para que não haja explicações desnecessárias na tentativa de construir um referente que já existe para ambos.
A língua é necessária para a interação/comunicação, mas não é suficientemente autônoma para garantir isso, assim como os outros fatores se considerados isoladamente também não o são. É o conjunto desses vários fatores que importa, pois apenas conhecimento da língua, contexto e conhecimentos prévios não realizam o processo sozinhos.
Não sendo a língua suficiente para garantir o sucesso da interação/comunicação, assim ela também não é suficiente para o processo de referenciação. É preciso além de conhecer a língua, saber utilizá-la no processo de interação/comunicação, associando-a aos conhecimentos social, situacional e de mundo, etc.
É essa amálgama de conhecimentos e fatores que torna possível, por exemplo, a compreensão de metáforas, metonímias, analogias, associações e outras figuras que não se esgotam na língua.
Não há como garantir com total certeza que uma mensagem seja perfeitamente compreendida (de acordo com a intenção do enunciador), pois são muitas as variantes do que estamos chamando de ?conhecimento compartilhado? que tanto afetam e determinam o ?jogo da linguagem?.
A única maneira de evitar o ?paradoxo do conhecimento comum?, ou seja, o problema de saber se o seu interlocutor tem todos os referentes necessários para compreender o sentido do seu enunciado, é conduzir esse processo por diversos caminhos que levem o participante há obter ou relacionar os conhecimentos prévios necessários.
Os conhecimentos comuns ou compartilhados por si só também não dão conta do processo de referenciação, eles são fatores que participam da construção de sentidos dos novos referentes, dentro de um quadro muito mais amplo de variantes.
Todos os fatores envolvidos no processo de interação/comunicação só funcionam dentro do conjunto e nenhum deles pode ser estudado isoladamente como sendo o único ou principal.
O que importa não é a quantidade de conhecimentos que os sujeitos envolvidos no processo de interação compartilham, mas sim a maneira como fazem isso, selecionando e combinando tais conhecimentos dentro de estratégias definidas para atingir o objetivo de construir o sentido esperado.
Portanto, ?referir? é muito mais do que simplesmente indicar objetos do mundo, tal e qual eles são aos nossos olhos. A linguagem não é uma imitação da realidade e nem tem a intenção de ser.


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