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A linguagem e as relações de poder e de gênero


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O lugar de fala (contexto, para quem se fala e com que intenção) é fundamental nas atuais vertentes culturais teóricas. Desse modo, Ívia Alves, em "A linguagem e as relações de poder e de gênero (ALVES, Ívia. Interfaces: ensaios críticos sobre escritoras. Ilhéus, Ba: Editus, 2005), abre seu texto explicitando seu lugar de mulher que fala de literatura e de cultura nas entrelinhas, ao invés de seguir os ditames do discurso dominante. Pois a linguagem não guarda inocência nem transparência, mas as marcas de classe, gênero, etnia, geração, território e ideologia da pessoa que fala ou escreve estão impregnadas em seu discurso. De seu lugar de fala, portanto, Ívia Alves tem por objetivo fazer uma discussão da herança e das armadilhas que temos do uso da linguagem e das formações discursivas (Foucault) na Modernidade, bem como algumas estratégias de resistência utilizada pelas mulheres.

Primeiramente, aborda o aspecto do acesso à linguagem e ao discurso no contexto da educação formal. Para tanto, descreve duas pesquisas sobre os livros didáticos: a de Zuleika Alambert e a de Esmeralda Negrão, ao estudar a linguagem visual. Indica que os dois estudos explicitam que as imagens e os textos escritos constroem, com bases em fundamentos da Modernidade, a futura mulher e o futuro homem, cujas caracterizações são as mesmas do senso comum, em que a linguagem parece ser transparente ou naturalizada, como se não fosse uma construção cultural. Desconstruir essa ilusão a respeito da linguagem, tanto no linguajar coloquial (frases feitas, ditos e provérbios) quanto em outras ordens de discurso, é uma das intenções principais de Ívia Alves nesse texto. Em seguida, explicita a desqualificação da mulher nessas construções linguísticas cristalizadas no meio social. Para tanto, analisa essa desqualificação na música “Ai que saudades de Amélia” (1940), de Mário Lago e Ataulfo Alves, que cultua uma mulher passiva e sem desejo próprio; faz referência a essas construções discursivas em Diva, de José de Alencar e em São Bernardo, na figura de Madalena, de Graciliano Ramos, para não citar outros livros; dá visibilidade a textos literários de autoria feminina, como da poeta Adélia Fonseca (1827-1920) e de escritoras dos anos 70/80 do século XX, que criaram espaços de resistência, como Sonia Coutinho, em O jogo de Ifá (1980) e Helena Parente Cunha, no pequeno conto “A Resposta” (1985).


A localização histórica das formações discursivas que ela tenta desmascarar é a partir do século XVI, alcançando seu ápice com a ascensão da burguesia, com o cientificismo e com as artes no século XIX. Para a autora, esse conjunto de forças construiu uma linguagem com base na hierarquia e em dicotomias que engendraram assimetrias de poder e a desqualificação do Outro, na tentativa de homogeneizar o falar e o pensar. Ou, nas palavras de Marilena Chauí, o “discurso competente”. Na contemporaneidade, Ívia Alves aponta a Análise do Discurso (lingüístico e semiótico) como um eficaz mecanismo de denúncia e desmonte das imposições de comportamento e de limitação do desejo das mulheres, herança da divisão sexual do trabalho na Modernidade.




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