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Meninos, EU VI...
VOCÊS VIRAM TAMBÉM, MAS ACHO QUE ESQUECERAM.
Menino
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MENINOS, EU VI... VOCÊS VIRAM TAMBÉM, MAS ACHO QUE ESQUECERAM. Meninos, eu vi, estarrecido, um micróbio chegando para mudar nossa história, um micróbio andando pelas ruas, de galochas e chapéu, entrando na barriga do Tancredo na hora da posse. E ai eu vi e ouvi, o povo perplexo com a televisão dando a notícia: "Tancredo morreu!" Então eu vi a democracia restaurada pelo bigodão de Sarney, o homem da ditadura, de jaquetão, posando de oligarca esclarecido; Vi o fracasso do Plano Cruzado, depois eu vi a volta de todos os vícios nacionais, o clientelismo, a corrupção, a impossibilidade de governar o país, a inflação chegando a 80 por cento num único mês. Meninos, eu vi as maquininhas do supermercado fazendo tlec tlec tlec como matracas fúnebres de nossa tragédia. Eu vi tanta coisa, meninos, eu vi a inflação comer salários dos mais pobres a 2% ao dia. Eu vi o massacre de miseráveis pela fome, ou melhor, eu não vi os milhões de mortos pela correção monetária, não vi porque eles morriam silenciosamente, longe da burguesia e da mídia. Mas vi os bancos ganhando bilhões no over e no spread , dólares no colchão, a sensação de perda diária de valor da vida. Eu vi a decepção com a democracia, pois tudo tinha piorado, eu vi de repente o Collor vindo de longe, fazendo um cooper em direção a nosso destino, bonito, jovem, fascinando os otários da nação, que entraram numa onda política "aveadada", dizendo: "Ele é macho, bonito e vai nos salvar...". Eu vi o Collor tascar a grana do país todo e depois a nação passar dois anos "de quatro", olhando pelo buraco da fechadura da Casa da Dinda, para saber o que nos esperava. Eu vi Rosane Collor chorando porque o presidente tirara a aliança. Eu vi a barriga de Joãozinho Malta, irmão da primeira-dama, dando tiros nas pessoas, eu vi a piscina azul no meio da caatinga, eu vi depois a sinistra careca de PC juntando o bilhão do butim. Eu vi Zélia dançando o bolero com Cabral em cima de nossa cara, eu vi a guerra dos irmãos Collor, Fernando contra Pedro e, depois, como numa saga grega, eu vi o câncer corroendo-lhe a cabeça. Eu vi o impeachment , eu vi tanta coisa, meninos, e depois eu vi, por acaso, por mero acaso, por uma paixão de Itamar, eu vi o FHC chegar ao poder, como a única tentativa de racionalidade política de nossa história, no meio de um antro de fisiológicos e ignorantes. E, aí, eu vi a maior campanha de oposição de nossa época, implacável, sabotadora, eu vi a inveja repulsiva da Academia contra ele, eu vi a traição de seus aliados, todos unidos contra as reformas, uns agarrados na corrupção e outros na sobrevida de suas doenças ideológicas infantis. Meninos, eu vi, ACM, Barbalhos e Arrudas serem escorraçados do congresso por falta de decoro para depois voltarem em triunfo, carregados pelos ombros de seus currais eleitorais. Meninos, eu vi, todas as esperanças de uma nação, serem depositadas nas mãos de um operário. E agora eu vejo o estranho desejo de regresso ao mundo do atraso, do erro e das velhas utopias, do bom e velho clientelismo. Vejo a direita se organizando para cooptar a oposição, vejo um exército de oligarcas se preparando para a vingança, vejo PSDB e DEM ex- PFL, prontos para tomar o Congresso de assalto, para impedir qualquer mudança e voltar aos bons tempos da zona geral. Meninos, vocês viram também, mas acho que esqueceram.
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