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A Educação na Casa: uma prática das elites no Brasil de 1800 (primeira parte)


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Um dos temas menos explorados na história da educação brasileira é o da Educação doméstica. É justamente este nicho que Maria Celi Chaves Vasconcelos aborda em seu livro intitulado: ?A Casa e seus Mestres: a educação no brasil de oitocentos?. Do ponto de vista da história da profissão docente (em especial a história da profissão docente no Brasil), este é um assunto que se reveste de especial interesse por consistir em um contraponto à idéia de que somente nas escolas a educação brasileira se desenvolveu.
No presente capítulo, a autora procura apresentar alguns aspectos referentes à trajetória da educação doméstica no Brasil do século XIX, mapeando esta trajetória a partir das mudanças e permanências na abrangência, bem como na forma que assume esta modalidade de educação ao longo do período tratado. Para tanto, recorre a fontes documentais como livros da época e, sobretudo, anúncios de jornais da época referentes ao tema<1>. Como justificativa para a adoção desta fonte, Vasconcelos indica que: ?A diversidade de anúncios, a importância de tornar públicos determinados assuntos, a quantidade de anunciantes, entre outros aspectos observados, autoriza a afirmação de que tal periódico reflete os usos e costumes da época, bem como as práticas aceitas e reconhecidas pela população (pag. 18)?
.
A maneira como estas fontes foram entrecruzadas com vistas a reconstruir estas práticas docentes chama a atenção para a preocupação da autora no sentido de procurar mediante a análise destas fontes, reconstruir elementos relativos a esta modalidade de educação, deixando entrever quem e como eram estes sujeitos que ensinavam e educavam nas casas das famílias brasileiras do século XIX.
Inicialmente, Vasconcelos procura indicar qual o foco de seu estudo, bem como o que entende por educação doméstica:
A educação realizada na Casa é uma prática existente desde os tempos mais remotos, caracterizada em determinados períodos da história como o único recurso para a educação de crianças e jovens, e em outros períodos e circunstâncias como a maneira utilizada pelos membros das elites políticas e econômicas para educar seus filhos, constituindo-se esse último caso como o objeto desse estudo <...> Dessa forma, a educação doméstica, ou seja, as práticas educativas realizadas intencionalmente na casa dos aprendizes <...> (pag. 1)

Após este primeiro momento em que é demarcado o escopo do objeto estudado e indicado o conceito de educação doméstica que serve como referência para a análise encetada, a autora procura destacar o debate que houve acerca desta prática educativa em fins do século XVIII e no século XIX, conforme é possível perceber nesta passagem: ?O debate acerca da escolha da educação a ser ministrada às crianças e aos jovens <...> vai conseqüentemente situando-se no âmbito das possibilidades existentes: a educação ?pública? e a educação ?particular? doméstica (pág. 3)
?. Após isto, a autora procura demonstrar que a educação doméstica correspondia ao longo do referido período em uma aspiração das elites, no sentido de aliar instrução (ou erudição) a uma educação intelectual (e comportamental) correlata ao sistema de normas, valores e crenças da elite brasileira do século XIX.
Ao contrário do que se pudesse pensar, Vasconcelos indica que a educação doméstica era reconhecida oficialmente e regulamentada. A autora indica ainda que, em Portugal a educação doméstica era regulamentada por lei, sendo em alguns casos (quando os aprendizes não fossem filhos do mestre) necessário um certificado de aptidão para tal. No Brasil, indica que esta modalidade de ensino se achava bastante difundida pela aristocracia, pela alta burguesia.
No Brasil, a educação doméstica também era regulamentada, o que se torna possível perceber a partir da leitura desta passagem: ?Além de ser incorporada nos textos legais a educação doméstica também era explicitada como parte do sistema de educação da época <...> (pag. 16)?.

A partir da análise dos documentos referentes à educação doméstica, a autora indica que esta se subdividia em três categorias desta modalidade educativa, utilizadas sobretudo pelas elites:
Professores Particulares ? também chamados de mestres particulares<...>não habitavam nas casas mas compareciam, para ministrar as aulas, em dias e horários pré-estabelecidos. Eram pagos pela família pelos cursos que ministravam. Preceptores ? eram mestres ou mestras que moravam na residência da família, às vezes, estrangeiros, contratados para a educação das crianças e jovens da casa (filhos, sobrinhos, irmãos menores). Aulas domésticas ? eram aulas ministradas no espaço da própria casa, por membros da família <...> ou até mesmo pelo padre capelão, que não tinham custo algum e atendiam apenas às crianças daquela família ou parentela (pag. 12)
A autora indica que apesar destas três granes categorias, a educação doméstica possuía variações quanto aos conteúdos e às formas de ensinar dentro destas categorias, e que somente a escola pública com seu poder homogeneizador é que vai fixar um modelo para as práticas educativas e para os conteúdos (ditos) educativos. No tocante à abrangência do período histórico em que esta modalidade educativa ainda permanece no Brasil, Vasconcelos indica que esta era comum até o início do século XX, principalmente entre as moças.
Nota-se que entre as décadas de 1840 e 1850 os colégios se expandem assim como o número de anúncios relativos a estes, enquanto que o número de anúncios relativos à educação doméstica permanece o mesmo.

<1> O principal jornal utilizado como fonte documental é o Jornal do Comércio a partir do ano de 1839.


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