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Estórias infantis revelam o novo paradigma do século XXI.


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O mundo mudou; mudaram também os contos de fadas e as estórias infantis que a eles se equiparam.
Tradicionalmente, o conto de fadas trazia alívio ao sofrimento infantil face a fortes emoções, através de resgate, escape e consolo, como brilhantemente ilustrou Bettelheim em seu A Psicanálise dos Contos de Fadas.
Tratava-se de evoluir para ser feliz, O sucesso de Nemo e Shrek surpreendeu-me, pois nas ultimas décadas tenho observado um nítido desinteresse pelos contos de fadas tradicionais. Ocorre que as pessoas continuam interessadas em estórias, mas por um novo tipo de estórias, com uma diferente abordagem da psique e do estar no mundo. As estórias de hoje trazem alívio psicológico sobre um diferente enfoque: aceitar-se e acreditar em si para ser feliz.
Durante séculos o bem estar do indivíduo entrava em oposição ao interesse comum. O que era bom para a sociedade não era necessariamente bom para o indivíduo.
Tempos mais felizes aguardam as crianças que são criadas com estórias como À Procura de Nemo e Shrek I e II, onde a tônica é a aceitação da individualidade, a que se reconhece o direito de SER em um mundo mutante aberto a infinitas possibilidades.
No conto de fadas tradicional o herói tem uma missão a cumprir e seu mérito é a vitória. Nas novas estórias o mérito é a persistência. Na estória de Nemo, o herói está invertido: não é o filho que parte para salvar o pai, e sim o pai que parte para salvar o filho. Quando este pai não chega a tempo ? pensa que fracassou ?continua simpático ao expectador e merecedor de todo o apoio de seus aliados .
O conto de fadas tradicional parece querer moldar o espírito infantil para o sacrifício e a busca de valores pré-estabelecidos. Já as estórias atuais valorizam a determinação de atingir sua meta e a capacidade de adaptação a um ambiente instável.
A figura do mentor, símbolo da força interior do herói, desaparece, e ao invés de gênios ou fadas madrinha, o companheiro do herói é um igual, imperfeito. Em Nemo, a peixinha distraída, em Shrek, o asno solitário.
Os objetos mágicos dão lugar a conselhos práticos: ?continue nadando?, ?faça alguma coisa?, ?qualquer coisa!?, enfim, persista.
Observamos na estória de Nemo uma inversão genial ? o pai parte para a aventura, o pai se modifica ao final e o pai é o responsável pelos deslizes do filho.
Diz a peixinha ?que coisa estranha para se desejar a um filho, que nada lhe aconteça, pois, se nada lhe acontecer, sua vida será muito sem graça?.
Nemo é uma estória para pais superprotetores e ansiosos ante a fragilidade dos filhos, que, superprotegidos, tendem a ficar cada vez mais frágeis. É fácil para a criança identificar-se com Nemo; ela é a parte mais fraca da relação pai-filho, com pouco poder de negociação.Já a identificação com Shrek ocorre pelo lado sofrido da infância. O ogro é criticado, desengonçado, feio, socialmente inadequado, sem controle do próprio corpo: arrota, peida, suja-se todo. Ora, estes desastres a criança conhece bem, principalmente a da cidade, sem direito ao contato saudável com a terra, a lama, o rio, os bichos, a ?sujeira?, enfim; obrigada a um precoce treinamento higiênico em creches e pré-escolas. Ora. em Shrek, a sujeira não é necessariamente ruim, pode ser divertida, e o ogrozinho se enlameia, transforma sapos em bolas de gás, faz caretas etc
Shrek é o herói que não se encaixa nas expectativas, não é o certinho; é rude, sacode a princesa, recusa o beijo de amor, demonstra sua boa índole através de atitudes bem estranhas, como fazer um churrasco de ratos, brincar de empurrar ou presentear com sapos a sua amada.
Já o príncipe, o certinho( em ShrekII em 3D), é visto com ressalvas, por ser vaidoso, superficial e sem vontade própria. Está obedecendo à vontade da mãe e chega atrasado à torre!
Nessas novas estórias, a princesa, não mais uma figura decorativa, tem a opção de escolher seu destino. É corajosa, luta karatê, questiona seus pretendentes e pode decidir-se entre ser princesa ou ogra, assumindo seu lado individual e criativo.
Se no conto tradicional o beijo de amor leva ao plano ideal e quebra o encanto, no conto moderno o beijo de amor leva ao plano real e reafirma o encanto. (ogra) Interessante é notar a conotação da expressão ?quebrar o encanto?, pois quebrar o encanto deixa tudo sem graça, previsível.
O conto tradicional convida o leitor a renunciar à individualidade em nome de um ideal coletivo. O conto moderno estimula o indivíduo a aceitar-se e a buscar a própria felicidade. Não importa se você é um ogro, em algum lugar haverá uma ogrinha esperando por você.
Se no conto tradicional os valores estão de antemão estabelecidos e consagrados, no moderno os valores apresentados são rejeitados e ousa-se buscar a liberdade, a autenticidade, a criatividade. Em um século em que a informação e a tecnologia evoluem minuto a minuto, as barreiras geográficas desaparecem e a comunicação é praticamente instantânea, esta ousadia é a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Resumindo, o conto de fadas tradicional nos diz: Siga as regras para ser feliz.
O conto infantil moderno aconselha, de maneira muito simpática: Seja você sem medo de ser feliz. (publidado na revista Pediatria Moderna - dezembro 2005) )


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