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Estudando a Cultura - Porque a Cultura é Vulgar


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A Cultura é vulgar: Toda a sociedade tem a sua forma, as suas propostas, os seus significados, expressos nas suas instituições, nas artes e no conhecimento. A construção de uma sociedade é a descoberta de significados e orientações comuns. O crescimento é feito e refeito em toda a mente individual. A construção de uma sociedade é, primeiro, a lenta apreensão das formas, propostas e significados, para que o trabalho, a observação e a comunicação sejam possíveis. É, depois, a experimentação destes pressupostos através de novas observações, comparações e significados que são testados nessa sociedade.

A cultura tem dois aspectos: os sentidos e as orientações comuns, para os quais os membros de uma sociedade são preparados; as novas observações e significados que são postos à prova nessa sociedade.

A natureza da cultura é simultaneamente tradicional e criativa; é tanto os mais correntes sentidos e os mais refinados sentidos. A cultura designa, portanto, tanto um modo de vida ? os significados e sentidos comuns; como as artes e a educação ? os processos de descoberta e de esforço criativo. Eu insisto nestes dois significados da palavra cultura, a chave da sua compreensão é justamente a sua ambivalência.

Mas há dois sentidos da palavra que rejeito: a ideia de que a cultura é um atributo especial de um certo tipo de pessoas, os homens cultos ou cultivados, com um certo comportamento e um certo tipo de discurso; o outro sentido é o que associa a cultura a uma certa eficiência, nomeadamente à eficiência técnica, desligada de referências humanas.

A cultura é vulgar. A curiosidade pelas artes ou pelo saber é simples, agradável e natural. O desejo de saber o que é melhor, e do fazer o que é bom faz da natureza positiva do homem.

Existem muitas versões sobre o que é que está mal na nossa cultura. Podemos sintetizá-las na versão marxista e no pensamento de Leavis.

Segundo a versão marxista, a cultura tem de ser interpretada em função do sistema de produção que lhe está subjacente. A cultura é um modo de vida, e as artes fazem parte de uma organização social que é afectada pelas mudanças económicas. Segundo esta visão, vivemos numa cultura dominada pelas oposições de classes, que deliberadamente restringe a herança cultural comum a uma classe privilegiada, deixando as massas na ignorância. E de facto existe uma cultura burguesa inglesa, com as suas instituições educativas, literárias e sociais, em estreito contacto com os actuais centros de poder.

Dizer que as pessoas que trabalham são excluídas desta classe é um facto; dizer que essas mesmas pessoas são excluídas da cultura inglesa é um disparate. Têm as suas próprias instituições, e muita da cultura estritamente burguesa não seria querida pela classe trabalhadora. Uma boa parte do modo de vida Inglês, bem como as suas artes e a sua educação, não é burguês. O ponto atingido pela cultura burguesa deixou-nos uma herança com valor cultural. Mas isto não quer dizer que a cultura contemporânea seja burguesa. Existe um modo de vida específico das classes trabalhadoras, que eu valorizo.

Uma cultura é a partilha de significados comuns, de todo um povo, o produto de uma interacção humana entre o social e o pessoal. Julgar que um sistema de produção diferente tem, necessariamente, de originar uma nova directriz cultural, abrangendo as artes e a educação, é um disparate.

Segundo Leavis, a uma velha Inglaterra predominantemente rural, com uma tradição cultural de grande valor, sucedeu o estado moderno, organizado e industrializado, cujas instituições características moldaram as respostas humanas, transformando a arte e a literatura em sobreviventes desesperados, enquanto uma nova vulgaridade mecanizada emerge nos centros de poder.

Mas qualquer análise da cultura que explícita ou implicitamente negue o valor de uma sociedade industrial é, na verdade, irrelevante. Não abdicariamos deste poder por nada.

O problema central da nossa sociedade de fim de século é sabermos como utilizar os novos recursos para a construção de uma cultura comum valiosa. Mas teremos de libertar-nos de alguns preconceitos:

a ideia de que uma sociedade industrializada é necessariamente poluída e destituída de sentido de estético. Erro crasso: as mesmas tecnologias que nos sujam as ruas podem limpá-las.

a ideia de que a nova cultura comercial é uma consequência da educação popular. Esta ideia é errada porque é muito duvidosa a efectiva existência de tais massas uniformizadas, ainda que seja uma evidência a construção e a utilização desse conceito, mormente pelos meios de comunicação. Por outro lado, parece-me que a nova cultura comercial vigente emergiu do caos social do industrialismo, e for a do sucesso da fórmula de massas, e não da educação popular.

a ideia de que esta nefasta cultura popular é um guia para as formas como pensamos e sentimos. Não será certamente para os mais instruídos, e se admitimos esta proposição, temos também de admitir a inversa, de que os produtos culturais mais elevados estão mais disseminados e podem exercer maior influência.


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