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Vida de Consumo


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O consumismo desenfreado, ou melhor, a sociedade de consumidores é o alvo de análise do sociólogo Zygmunt Bauman, neste livro publicado em 2007. Dividindo sua obra em quatro capítulos (além de uma extensa e aguda introdução), o sociólogo avalia quais os efeitos da troca da outrora sociedade de produtores, moderna e sólida, na qual a relação do ser humano com o trabalho e os bens adquiridos permanecia como vínculo indissociável (mais ao que concerne à acumulação que à produção ) pela sociedade de consumidores, pós-moderna e líquida, conceito de mercado transformou tanto o trabalho como o ser humano ? produtor\consumidor ? em produtos que devem ser avaliados como mercadoria e capazes de gerar fluidez nesse espaço social fomentado pelo marketing e a ideia de escolha, porém escolhas nunca definitivas sempre em estado de permanente troca. O ser humano qualificado ao mesmo tempo como consumidor ávido e como mercadoria para a apreciação de possíveis compradores. A consequência dessa mudança pode ser medida pela transformação das práticas de compra e venda, além das expectativas relacionadas à aquisição de algum produto. Na sociedade de produtores, até as primeiras décadas do século XX, os desejos e aspirações tinham como motivos primordiais, a estabilidade, a segurança e o prazer (ou conforto) que tais situações pareciam proporcionar. A ideia que um bem deveria estar intacto, ou seja, que fosse durável, sólido e que vislumbrasse o intento da resitência ao tempo, da perdurabilidade e da prudência era prioritária; evitava-se que os bens sofressem qualquer dano. O propósito era conservá-lo para que perpetuasse. A sociedade de consumidores inverte essa lógica porque se pauta na concepção da satisfação imediata dos desejos, porém desejos estes sempre reavivadas, pois sua satisfação nunca é plena; o novo e melhorado sempre acendem a cobiça pela recente aquisição de algo mais desenvolvido. A sociedade de consumidores, com suas estratégias de marketing infalíveis, deprecia o ?velho? sugestionado que ele é ?antiquado? e transforma a novidade em uma celebração que glorifica o consumo. Daí, a satisfação de um desejo somente durar da sua aurora até o desaparecimento, nem sempre marcado pela sua completa fruição; o longo prazo (contemplação e perenidade) estigma da modernidade perde a primazia para o curto prazo (ação e fugacidade) atributo da pós-modernidade nesse mercado onde o trabalho e os homens e mulheres são objetos da cultura de consumo.

Bauman, nesse olhar perspicaz e esclarecedor, adota o modelo de Max Weber dos ?tipos ideais?, abstrações que captam a ?singularidade de uma configuração composta por ingredientes que não são nada especiais ou específicos, abstrações que individualizam os padrões que definem essa configuração e os separa da multidão de aspectos que compartilha com outras configurações?, segundo explica o sociólogo. Bauman adverte que os ?tipos ideais? não são descrições da realidade, ele as trata como ferramentas de análise, admitindo o provável paradoxo de ?tipos? que possuem uma natureza abstrata para avaliar uma realidade social empírica. ?Os tipos ideais? de Bauman são o de consumismo, de sociedade de consumidores e de cultura consumista. Partindo da constatação que o consumo faz parte dos costumes humanos mais rotineiros, ou seja, lança-se um olhar para a história e se compreende o consumo como algo que acompanha o ser humano desde os seus primórdios, tanto que para avaliá-lo é possível separá-lo em períodos que se modificam que junto com os hábitos, até esta nossa ?cultura acelerada? (termo empregado pelo estudioso Stephan Bertman) líquida e feita de rompantes de desejos que acompanham os grupos e indivíduos que possuem uma margem de atuação restrita, pois suas escolhas e condutas (grupal ou individual) podem ser manipuladas ou atiçadas conforme o trânsito que fazem nesses grupos ou na vida social que acompanha o indivíduo. Bauman trabalha dois conceitos chaves em ?Vida de Consumo? para o entendimento da dimensão da sociedade de consumidores: o tempo ?puntillista? (palavra que conservo em espanhol) que marca as rupturas e descontinuidades, que dão à sociedade de consumidores, para esse consumo líquido, a capacidade de renegociar o conceito de tempo, pois ele não é cíclico nem linear, mas denota a inconsistência, a falta de coesão, é um tempo roto, está pulverizado e atestado por uma ?multidão de instantes eternos? como profere Bauman.

E a ideia de ?danos colaterais? do consumo e da sociedade de consumidores que recaem, geralmente, sobre os pobres e imigrantes, que não exercem força preponderante na cultura da apropriação, fruição e descarte. Nessa cultura de elementos descartáveis são os próprios despossuídos de poder de compra descartáveis, relegados a ?infra-classe?, situação financeira que apenas propaga o desejo de obtenção (e por vezes leva os indivíduos não detentores de poder aquisitivo ao crime ou ao endividamento que seu status social não permite saldar com facilidade). Os ?danos colaterais? que o consumismo provoca atinge seu ápice quando os desejos insaciáveis não são satisfeitos, pois não devem sê-los de modo algum. Segundo os filósofos da Escola de Frankfurt, ?A maldição do progresso irrefreável é a irrefreável regressão?. Ou seja, quanto mais se tem ou produz, mas os homens e mulheres da sociedade líquida de consumidores correm o risco da ?coisificação?, da alienação irreversível da sua força de trabalho, da sua criatividade e das suas escolhas perante um mercado abarrotado de ofertas que precisa gerar demandas em sentido cada vez mais vertical e acelerado.

Bauman faz um diagnóstico instigante deste modelo apressado e artificial que se apresenta na forma de sociedade de consumidores.



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