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Lutero E MAQUIAVEL ? A ÉTICA DO PRAGMATISMO RENASCENTISTA (parte 1)


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O início da formação da Renascença italiana é o início da Renascença européia, e também a Itália é considerada a inauguradora do período Humanista europeu. E para uma melhor compreensão deste período cumpre destacar alguns aspectos que se tornaram notórios já no início do Renascimento italiano, sem, no entanto, esquecer de influências externas. Entre os aspectos mais relevantes podemos relembrar a retomada dos textos dos filósofos gregos; o fortalecimento da noção da capacidade criativa dos seres humanos e uma maior influência do pensamento humanista nas universidades italianas, disputando espaço com a escolástica. Os humanistas trataram desde o início em realizar uma ofensiva contra a Escolástica, especialmente no que se refere à metodologia, baseada nas abstrações. O humanismo repudiava tal metodologia, pois de acordo com sua tese, a filosofia deveria ter algum uso prático na vida social e política, ou seja, todo conhecimento deveria servir para ser usado. Esse movimento exerceu um profundo impacto na constituição do pensamento político e social do século XVI.

Para construirmos um cenário mais completo do período histórico identificado como Renascimento poderíamos tratar de todas as transformações que marcaram o início desta época, como a Reforma e Contra-reforma religiosa, o mercantilismo, o novo humanismo, entre outros. Todavia, para os propósitos da presente reflexão, devemos procurar os eixos fundamentais destas mudanças, que permitem entender que a partir do final do século XV, um processo de grande mudança estava em curso em toda a Europa. E sem dúvida um marco central desta mudança constitui o esgotamento de um modo de produção - o feudal e a emergência de um novo modo - que foi o mercantilismo. São as condições históricas concretas que desencadeiam novas formas de conhecer o real. Então nos deparamos com uma nova ética, uma nova estética, novas concepções políticas, novas teorias científicas e naturalmente com nova visão filosófica. Neste ambiente a Reforma protestante foi fundamental: ela forneceu a base ideológica para o mercantilismo: a prosperidade é uma benção de Deus. O lucro não é um conceito entendido na Idade Média. O sentido das trocas no feudo era mais comunal. O surgimento de um mercado, como um sistema econômico, é que permite também a construção do conceito de acumulação. É esta acumulação que cria os novos ricos, moradores dos burgos. A contra reforma da Igreja Católica terá que enfrentar estes novos desafios.

Para melhor situar o foco estas mudanças vale lembrar que durante a antiguidade grega, e em todo o período medieval, a terra era vista como um ser vivo: mãe provedora, que retribuía seus filhos com alimentos se estes soubessem cuidar dela. Esta era a visão conhecida como organicista. A partir do século XVI com as descobertas revolucionárias de Copérnico, Galileu e Newton esta visão mudou: o mundo passou a ser visto como uma máquina sujeita não só ao conhecimento, mas ao domínio e a exploração. Esta seguramente é a mais importante mudança, promovida pela descoberta do método científico na renascença. Esta nova visão estava de acordo não apenas com uma visão científica, que se baseava na observação, experimentação, testes e projeções. Esta mudança estava de acordo com dois outros processos da história: a superação do domínio da Igreja Católica e a constituição de uma nova ética, que permitiu ao mercantilismo expandir-se, valendo-se dos novos valores e das novas descobertas. O conhecimento precisava ter uma utilidade. Vale lembrar: não apenas a terra era vista como uma máquina, mas também os corpos humanos, comparados a mecanismos de relógios. Neste ambiente vale registrar que até o final do século XVI, os fenômenos puramente econômicos não existiam isolados do contexto da vida. Durante a maior parte da história, o alimento, o vestuário, a habitação e outros recursos básicos eram produzidos para valor de uso e distribuídos no seio das tribos ou grupos humanos numa base recíproca. A idéia de lucro era inconcebível. A organização econômica era operada pelo mecanismo de armazenamento e redistribuição de mercadorias comuns, como o cereal: era isto que acontecia em todo o sistema feudal, o que não impedia que as pessoas ou grupos sociais se movimentassem motivadas pela necessidade de poder e dominação. Uma das conseqüências mais importantes da mudança de valores no final da Idade Média foi a ascensão do capitalismo mercantil a partir do século XV e XVI. O sociólogo Max Weber irá mostrar aspectos fundamentais desta mudança em seus escritos sobre o papel da ética protestante no desenvolvimento deste novo modo de produção ? o mercantilismo (WEBER, Max in A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1967). Ao mesmo tempo uma nova ética surge também na política, sustentada pelo pensador Nicolau Maquiavel, em seu livro mais conhecido, O Príncipe.

Mas nos atendo ao cenário renascentista é preciso um trabalho de ?garimpagem? de conceitos para entender o papel da Reforma na emergência de um novo modo de produção. Não é uma construção fácil. Vamos examinar porque. O modo de produção feudal tinha uma natureza de predominância rural. O trabalho, braçal, era de servidão. Não era uma atividade que conduzia à liberdade. O vínculo do servo ao feudo (a terra) fortalecia uma estrutura de baixa mobilidade social. E toda a estrutura social estamentária contribuía para esta rigidez na organização econômica.



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