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A noção de Língua em Bakhtin e outras postulações teóricas


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O presente estudo apresentará, concisamente, uma reflexão a respeito da concepção de Língua proposta por Bakhtin, através da crítica do mesmo autor acerca das demais noções de linguagem. Para atingirmos tal fim, é necessário nos voltarmos para a função que era destinada à Língua em épocas mais remotas, já que tais postulações irão firmemente de encontro ao pensamento bakhtiniano. Os estudos sobre linguagem comandados pelos filósofos antigos calcavam-se numa visão puramente realista. Para eles, a linguagem tinha como função representar o mundo exterior ao indivíduo. Desse panorama surgem, então, duas fortes correntes de pensamento do século V: naturalistas e convencionalistas. Aqueles pregavam a existência de uma relação motivacional entre significante e significado, isto é, haveria uma relação direta entre a imagem acústica e o conceito a que a mesma se refere. Já estes defendiam a arbitrariedade do signo, afirmando que os nomes eram escolhidos a partir de uma relação meramente convencional e não motivada. O que há em comum entre os dois grupos é o fato de ambos acreditarem que a função precípua da linguagem era, somente, representar o real. Como confirma Brandão (1993: 45): ?segundo a epistemologia clássica, a língua tinha como função representar o real. Para ela, um enunciado era verdadeiro se correspondesse a um estado de coisas existentes.? Fica claro, assim, que a língua estava muito longe de ser concebida como instrumento de poder, carregada de valores, interesses e crenças; assim como propôs Bakhtin. Por muito tempo, foram aqueles os pressupostos tidos como certos no estudo da linguagem. Com a evolução dos mesmos, surgiram mais duas correntes: o objetivismo abstrato e o subjetivismo idealista, os quais ainda não vislumbravam uma conceituação significativa e convincente de língua, como veremos. Para o primeiro, o fato lingüístico é externo ao social; sendo, pois, um sistema estável, imutável, neutro e monovalente. Para tal linha de pensamento, interessava apenas o sistema sincrônico da linguagem, esquecendo-se de que ?o sujeito é essencialmente histórico. E porque sua fala é produzida a partir de um determinado lugar e de um determinado tempo, à concepção de um sujeito histórico articula-se a outra fundamental: a de sujeito ideológico? (BRANDÃO, 1993: 49). Para o último, a língua é uma atividade mental, individual, psicológica, além de não se responsabilizar pelas investidas ideológicas e sociais. É evidente que ambos possuem matizes comuns, devida à negação da língua em sua situação concreta de uso, cujos parâmetros básicos se fundamentam na interação e no dialogismo entre seus falantes. Por ter consciência disso, Bakhtin propõe algo inusitado para o quadro que havia se pintado até então nos estudos da linguagem. Para o pensador russo, a língua era uma atividade essencialmente social dada as condições inquestionáveis de comunicação entre os falantes. A palavra se constitui, assim, em uma arena de conflitos, na qual os falantes digladiam segundo seus pontos de vista. A luta provém, evidentemente, de interesses divergentes, sejam eles de qualquer natureza. Da divergência, nasce o discurso- fronteira entre a língua e as ideologias dos indivíduos. Temos, perceptivelmente, uma evolução inquestionável no que diz respeito à linguagem. Esta abandona seu estado neutro para habitar um espaço ideológico, deixa de ser representada como um sinal inerte, monovalente para ser concebida como um signo dialético, plurivalente. Tais proposições só puderam encontrar seu lugar em um contexto dialogista, tecido segundo as posições antagônicas de cada parte envolvida no discurso. Bakhtin, dessa forma, já vislumbrava parte dos atuais estudos acerca da linguagem, os quais argumentavam a favor do conteúdo interacional da língua. Sendo assim, é correto afirmar que todo discurso implica, de fato, um locutor; mas, de forma alguma, dispensa um interlocutor, já que moldamos nossa fala tendo sempre em vista um outro. É Bakhtin também quem vem ampliara discussão travada: ?Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte? (1992: 113). Dessa forma, Bakhtin tenta deslocar as concepções teóricas já mencionadas neste texto: ?A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema lingüístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes? (BAKHTIN, 1992: 124). Nega, portanto, o objetivismo abstrato, que não aceitava a capacidade de as línguas evoluírem através do tempo, tampouco que a mesma só pode ser compreendida no seu processo real de uso. Nega também o subjetivismo individualista, que assume ser o indivíduo o centro de estudo da linguagem; como se esse não sofresse influências significativas do contexto que vivencia, direcionando sua fala para um outro. É evidente a colaboração do russo para o desenvolvimento dos estudos da linguagem, no entanto, não é lícito desmerecer as outras concepções, já que somente a partir da crítica às mesmas é que se pôde chegar a tal patamar no que diz respeito ao funcionamento dialógico/ideológico da língua. Os estudos bakhtinianos, porém, demonstram um viés mais consistente a respeito da concretização da linguagem e não apenas teorias que não se preocupam com o funcionamento factível da língua. Em Bakhtin, portanto, podemos encontrar além da referida revisão teórica, um estudo inovador para época, já que o estudioso relaciona o funcionamento da linguagem com as práticas político-sociais em vigência na Rússia marxista, conseguindo demonstrar como estas podem se servir do uso da palavra para persuadir àqueles que se encontram sob o seu domínio. Prova mais uma vez, então, o amálgama indissociável que há entre linguagem e sociedade.


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