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Por dentro do limbo


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A prisão Guantánamo, erguida num enclave americano em Cuba ainda é um símbolo da arrogância americana da era Bush. Além dos próprios presos e de advogados, poucos chegaram a conhecer essa realidade de perto. Mahvish Khan, americana filha de afegãos, escreveu o livro My Guantanamo Diary, um relato inédito, já que jornalistas não tem acesso aos presos. No livro, ela traça perfis de presos que visitou no centro de detenção, em Cuba.

Em 2005, quando ainda era aluna de direito e estudava os estatutos federais sobre tortura, ela percebeu que Washington tinha burlado a Constituição americana para criar um campo de detenção onde os prisioneiros poderiam ficar indefinidamente sem nunca ser acusados. Sentiu uma indignação crescente por ver o quão criminoso e medieval era isso. Ela buscou os casos mais importantes e entrou em contato com os advogados dos prisioneiros. Queria participar como jornalista e advogada, mas quando soube que nenhum deles falava pachto, a língua predominante no Afeganistão, ofereceu-se como intérprete e foi aceita para trabalhar com os advogados defensores. Para ter acesso à prisão, sua vida foi investigada durante seis meses pelo governo americano.

Na primeira visita à base, em janeiro de 2006, entrevistou Ali Shah Mousovi, um pediatra de 43 anos que havia trabalhado para a ONU em apoio ao governo democrático de Hamid Karzai. Ele era um muçulmano xiita perseguido pelo Talibã e, mesmo assim, os Estados Unidos suspeitavam que ele tivesse ligação com o Talibã. Nunca houve sequer uma acusação formal contra ele, que só foi libertado três anos depois. Mais impressionante foi o caso de Haji Nusrat Khan, um paraplégico de 80 anos que tinha sofrido dois derrames 15 anos antes de ser preso. Ele foi levado para a prisão de maca, o Departamento de Defesa americano afirmava que ele lutava no campo de batalha. Apesar de imóveis, suas pernas foram acorrentadas ao chão.

Mesmo reconhecendo que todos os detidos não sejam santos, ela acha que a maioria deles está lá por um erro, dezenas deles nunca foram acusados de nada criminoso. Militares americanos ofereceram até US$ 25 mil no Afeganistão por um membro da Al Qaeda ou do Talibã. Num país onde um cidadão comum ganhou em 2006 cerca de 80 centavos por dia esse programa de recompensa estimulou muita gente a entregar outras pessoas por dinheiro e o maior erro dos militares americanos foi não investigar as alegações feitas pelos moradores. Isso criou um mercado negro em que pessoas entregavam seus inimigos. Assim, 80% dos prisioneiros foram capturados numa época em que os afegãos se beneficiavam das recompensas. Apenas 5% deles estão lá como resultado direto da inteligência dos Estados Unidos.

O tratamento dado aos prisioneiros é bastante desumano. A maioria fica presa sozinha em celas de concreto do tamanho de um colchão king size, onde ficam a cama, o banheiro e a pia. Eles comem e rezam sozinhos. Muitos não veem a luz do sol durante meses, vários são submetidos a buscas nas cavidades do corpo na frente dos outros. São 15 buscas desse tipo em um só dia, também são confinados sob frio ou calor extremos. Quem faz greve de fome leva gás de pimenta e é forçado a comer. Haji Nusrat, um dos detidos, foi forçado a se despir na frente de guardas mulheres e foi espancado até quebrarem seu braço. Ali Shah e outros presos foram despidos e levados como gado, arrastados e cuspidos.

Ao fechar a prisão, Mahvish Khan acha que Obama poderá romper de forma decisiva com a era Bush e enviar um sinal de boa vontade aos líderes mundiais que pediram por isso; mas alerta que Obama terá de enfrentar vários desafios jurídicos e diplomáticos relacionados com o fechamento. Por exemplo: como lidar com as provas obtidas sob tortura? É possível encontrar asilo político para os prisioneiros cujo país de origem talvez os torture ainda mais? São problemas que a equipe de Obama está tentando resolver. Quanto aos prisioneiros perigosos, ela considera que dos 775 presos no seu auge, só 20% foram acusados de algo criminoso. Quanto ao resto, é presunçoso chamá-los de perigosos, estranho até mesmo chamá-los de inocentes. Inocentes de quê? A maioria (cerca de 500) foi solta sem acusação, tão repentinamente quanto foi presa. Ela acredita que serão feitos julgamentos públicos para os poucos que de fato são terroristas, os demais serão mandado aos seus países sem nunca ter sido acusados.

Quanto à publicação do livro, ela presume que cada palavra dita na presença dela por um preso de Guantánamo seja confidencial. Todas as notas que tomou sobre os diálogos e as descrições físicas durante aqueles encontros foram entregues a um grupo de censores do Departamento de Defesa. Tudo o que foi carimbado como ?não confidencial? foi publicado; o resto não. O livro foi bem recebido pela crítica americana e até por alguns guardas de Guantánamo. Um deles até lhe pediu um exemplar autografado.



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