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Porque é que as notícias são como são? (Parte 2)


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(Continua de Parte I mencionada em baixo em 'Links importantes')
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A acção social
Principia com a observação de que as organizações noticiosas produzem notícias. Porém, as organizações são vistas como sendo mais do que a soma das pessoas que as constituem. Têm imperativos próprios. Os produtos de uma organização podem então ser mais consequência não planeada de um grande número de pequenas escolhas do que o resultado pretendido de um pequeno número de decisões críticas.
Leon Sigal descobriu que nas primeiras páginas do New York Times e do Washington Post o número de artigos sobre a cidade, o país e o mundo tendia a ser o mesmo. É que a sala de redacções dos dois jornais está organizada em três secções - cidade, país,  estrangeiro - que rivalizam entre si pelo espaço da primeira página, criando-se assim um compromisso pela política burocrática da sala de redacção.
Ao cobrir uma campanha presidencial, a maior parte dos repórteres aparecem com o mesmo lead nas suas notícias. Esta uniformidade pode ser explicada por se basearem todos nos despachos das agências noticiosas, mas também por rotinas estabelecidas no trabalho jornalístico.
Os jornalistas têm de evitar erros e defender-se das críticas às inúmeras decisões que tomam, pelo que se submetem a regras no tratamento das fontes para assegurarem um fluxo contínuo de notícias. Assim, o realce dado ao conflito aberto, aos acontecimentos visíveis e imediatos mais do que aos processos sociais não visíveis  e de longa duração, a criação de antagonismos facilmente identificáveis, são hábitos enraizados no tratamento das notícias.
O hábito dos jornalistas centrarem a sua atenção nas figuras públicas pode ser visto num contexto organizacional. Eles seguem rotinas segundo as quais as figuras públicas legítimas como, por exemplo, os senadores dos EUA são dignos de notícia. Investigar as suas afirmações implicaria ir além do que experimentado e considerado verdadeiro, as práticas organizacionalmente estabelecidas e legitimadas.
A perspectiva da acção social acha os repórteres submetidos não tanto às directivas dos directores e editores, mas antes à orientação implícita das convenções e procedimentos que parecem razoáveis.
Assim, o repórter é libertado da influência pessoal dos directores, e ao mesmo tempo constrangido por ideias, valores e práticas imanentes ao trabalho das organizações noticiosas.
A acção cultural
A abordagem pela acção cultural dá menos atenção às relações sociais particulares e concretas do que à história e tradições da sociedade na qual têm lugar essas relações sociais. Há duas variantes dentro desta explicação - antropológica e literária - que vê as notícias não tanto como uma construção social, mas como um texto cultural, um artefacto que involuntariamente se apoia em padrões culturais pré-existentes para produzir sentidos.
Segundo a perspectiva antropológica, alguns acontecimentos são facilmente utilizáveis pela maneira usual de a sociedade pensar acerca das coisas. A história de Frederick Cummings de Detroit, que recusou um emprego em Los Angeles, pode ser compreendida nesta perspectiva.
É que nesse sistema de símbolos, Los Angeles é encarada como um sítio muito desejável para viver, enquanto Detroit é vista como estando a morrer, velha cidade industrial sem atracções notáveis. A notícia, então, não foi sobre o director ou o museu. Foi acerca da sociedade urbana. A história não foi que o sr. Cummings recusou um emprego, mas que Detroit podia permanecer orgulhosa de si.
A abordagem literária encara a notícia como um conto, uma forma de literatura e uma forma estereotipada e convencional. É que apesar de a notícia pretender ser mimética, reflectir a realidade, está, em muitos aspectos, próxima das formas literárias. Ao produzir programas noticiosos nos jornais e na televisão, os jornalistas contam histórias obedecendo a certas fórmulas.
Assim, a explicação literária pode ser a mais apropriada para o carácter melodramático das notícias. Porque é que os jornais de Chicago tratam de maneira tão diferente a visita do Papa à comunidade mexicana? É que o Sun Times, de obediência democrática, parece mais sensível aos grupos do centro da cidade, enquanto o Tribune, de orientação republicana, está mais virado para os subúrbios.
Se admitimos que a notícia é um dispositivo para dar forma à experiência - tal como um poema, um romance, um conto de fadas - o que é que distingue as notícias?
Nesta perspectiva, as páginas sociais do jornal são romance: tudo é ordeiro, todos os mal entendidos se resolvem com o casamento. A notícia da moda faz da vida um romance. A reportagem de um fogo é uma tragédia. As notícias sobre os burocratas são sátiras. No caso Watergate, a imprensa acreditou ter uma tragédia nas mãos, mas não conseguiu evitar o tom satírico ao dar a notícia da Washington oficial.
Conclusão
Uma explicação pela acção cultural não é, por si só, suficiente. É importante reconhecer o poder dos quadros e pressupostos culturais. Mas, por si só, uma abordagem pela acção pessoal, social ou cultural não é passível de representar a complexidade de forças e conflitos, o sentimento dos participantes de que as suas acções podem introduzir diferenças,  e o juízo dos historiadores segundo o qual às vezes elas têm importância.
A criação de notícias é sempre uma interacção de repórter, director, editor, constrangimentos da organização da sala de redacção, necessidade de manter os laços com as fontes, os desejos de audiência, as convenções culturais e literárias, etc.


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