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LIÇÕES DA AULA


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A obra consiste na aula inaugural proferida por Pierre Bourdieu (1930-2002) no Collège de France, em 23 de abril de 1982 e traz um panorama das principais idéias de Bourdieu utilizando a análise da própria aula inaugural como introdução a questionamentos sobre a atuação do sociólogo como pesquisador e sobre a Sociologia como ciência.
Bourdieu confere à Sociologia o encargo de trazer à luz os mecanismos que perpetuam um falso estado de normalidade do quadro social e das relações que o compõem. Tais mecanismos mantêm o homem como refém das expectativas, já delineadas em procedimentos sobre os quais não se permite impunemente ponderar ou questionar a imprescindibilidade.
Nesta tarefa, o sociólogo, antes de tudo, deve estar disposto a conquistar a independência intelectual que conduzirá à crítica cientificamente construída, desvinculado de inclinações e bandeiras que tendam a utilizar a ciência como mera geradora de embasamento para a manutenção de um sistema de relações. E o questionamento da própria ciência pela ciência pode auxiliar o sociólogo nesta empreitada, evitando que o pesquisador, inserido que está na estrutura que estuda, seja tolhido em sua missão pelo determinismo das estratégias sociais de preservação estrutural.
O autor critica a postura que denomina de visão soberana<1>, fruto da pretensão de designar-se como possuidor legítimo do poder de classificar, conceituar e constituir o quadro social, momento em que o sociólogo pode terminar por afastar-se do caminho da ciência e enveredar pela prepotência da configuração arbitrária. A imunização a tal contexto se daria com a Sociologia elegendo o embate pelo domínio do poder de classificar e impor representações como seu objeto, ao invés de se deixar por ele ser conduzida. O sociólogo, portanto, deve atuar ao mesmo tempo de posse de um holofote, que possibilite expor os conflitos entre a imposição de representações e a negação destas, e de um microscópio, que permita dissecar, entender e desmistificar as relações a eles inerentes, conforme podemos captar do trecho abaixo:
?sem dúvida, o sociólogo não é mais o árbitro imparcial ou o espectador divino, o único a dizer onde está a verdade ? ou, para falar nos termos do senso comum, que tem razão -, e isso leva a identificar a objetividade a uma distribuição ostensivamente eqüitativa dos erros e das razões. Mas o sociólogo é aquele que se esforça por dizer a verdade das lutas que têm como objeto - entre outras coisas ? a verdade.(...) Cabe-lhe construir um modelo verdadeiro das lutas pela imposição da representação verdadeira da realidade, que contribuem para fazer a realidade tal como se apresenta ao registro. ? <2>

O conhecimento científico terá, neste sentido, o poder de libertar os dominados dos meios engendrados para manter o funcionamento da violência simbólica<3> gerada no processo de dominação, pelo monopólio das prerrogativa de determinar as representações da realidade, uma vez que a ignorância destes processos maximizam o resultado alcançado.
Para que o sociólogo alcance imparcialidade e objetividade científica deve visualizar o que o autor designa como ?campo?, um espaço com agentes cujas posições são pré-determinadas e que serve de palco para o embate entre seus interesses conflituosos:

?O pensamento em termos de campo demanda uma conversão de toda a visão ordinária do mundo social, que se ocupa exclusivamente das coisas visíveis: do indivíduo (...)ao qual nos liga uma espécie de interesse ideológico primordial; do grupo, que só aparentemente é definido exclusivamente pelas relações, temporárias ou duradouras, informais ou institucionais, entre seus membros; enfim, das relações entendidas como interações (...) É a estrutura das relações constitutivas do espaço do campo que comanda a forma que as relações visíveis de interação podem revestir e o próprio conteúdo da experiência que os agentes podem ter ? <4>

Conjuga-se à idéia de campo o conceito de habitus, que configuraria a manifestação daHistória nos corpos<5>, assim como as instituições seriam formas da História objetivada nas coisas. O habitus irá estruturar a forma como os agentes sociais percebem e lidam com a realidade, e estará relacionado ao pertencimento a um grupo, onde a associação com o espaço social proporcionado pelo campo irá delinear a prática da rotina institucionalizada.
Partido deste plano de fundo, os agentes são vitimados pelas instituições, as quais constroem e mantêm as representações necessárias às práticas de seus respectivos campos. E configura-se relevante neste aspecto a influência do capital, composto pelo capital cultural, social e econômico, que será alvo de disputa entre dominados e dominantes. O autor nos apresenta com esta obra um conjunto conceitual que permite antever a sociologia de Bourdieu com seu caráter revelador, numa sociedade onde os indivíduos e os grupos são levados a agir de acordo com disposições adquiridas inconscientemente que conduzirão as práticas e o convívio social. Estas estruturas estabelecidas sob hábitos praticados em espaços sociais simultâneos, criam o arcabouço simbólico que impulsiona os agentes sociais ao jogo praticado no interior de cada campo, onde o domínio do poder de estipular as representações da realidade, configurando o que deve ou não ser realizado e pensado, conduz os nossos conflitos do dia-a-dia.

<1> Bourdieu, Pierre. Lições da Aula. Ática, São Paulo,1995. p. 9

<2> Ibid. , p. 13.

<3> Ibid. , p. 20.

<4> Ibid. , p. 45.

<5> Ibid., p. 41.


Veja mais em: Sociologia

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