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Alfabetizar com sílaba, fonema ou letra? A explicação está na história da escrita.
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Alfabetizar com sílaba, fonema ou letra? A explicação está na história da escrita.
É na história da escrita que buscamos a explicação para o uso da letra como base para o ensino da escrita, pois, nas classes de alfabetização muito já se usou a sílaba ou fonema. A explicação para este fato, de acordo com Cagliari (1990), está na história da escrita, como veremos a seguir. A história da escrita nos remete à pré história, à partir do uso das pictografias feitas nas paredes das cavernas. Vista no seu conjunto, a história da escrita pode ser caracterizada como tendo três fases distintas: a pictórica, a ideográfica e a alfabética. A fase pictórica se distingue pela escrita através de desenhos. Os pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem do que representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade. Já a fase ideográfica se caracteriza pela escrita de desenhos especiais chamados ideogramas, que, ao longo de sua evolução foram perdendo alguns dos seus traços mais representativos das figuras retratadas e tornaram-se uma simples convenção de escrita. As letras do nosso alfabeto vieram deste tipo de evolução. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética, surgindo, daí, a fase alfabética, que se caracteriza pelo uso de letras. Estas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente fonográfica. O alfabeto passou por inúmeras transformações; primeiro surgiram os silabários, em que cada conjunto de sinais específicos representava uma sílaba. Os desenhos usados referiam-se a características fonéticas da palavra. Os fenícios utilizaram vários sinais da escrita egípcia, formando um inventário muito reduzido de caracteres, cada qual escrevendo um som consonantal. Dadas as características da sua língua, as palavras são reconhecidas facilmente apenas pelas consoantes. Os gregos adaptaram o sistema de escrita fenício, ao qual juntaram as vogais. Assim escrevendo consoantes e vogais, criaram o sistema de escrita alfabética. A escrita alfabética é a que representa um número menor de símbolos e permite a maior combinação de caracteres na escrita. Os caracteres dos sistemas de escrita pictográficos e ideográficos podem se basear na representação semântica correspondente a unidades morfológicas, como os símbolos e as cartas enigmáticas. Os caracteres ideográficos podem ser usados para representar sílabas, adquirindo um caráter fonográfico. Uma sílaba pode ser representada por uma letra do alfabeto, que é o sistema mais detalhado quanto à representação fonética, representando os sons da fala em unidades menores do que a sílaba. Todo sistema de escrita tem um compromisso direto ou indireto com os sons de uma língua e como as línguas mudam com o tempo, transformando as formas fônicas das palavras, a escrita passa a ser de difícil leitura. Historicamente, muitos sistemas ideográficos foram se reformulando e acabaram incorporando muitos elementos da escrita fonográfica. Assim, o contrário também acontece quando sistemas alfabéticos procuram representações em escritas silábicas ou morfológicas, em geral por necessidade de simplificação do excesso de detalhes que a escrita alfabética produz. As abreviações são uma volta ao sistema ideográfico, assim como os sinais de pontuação e os números, e atualmente, a linguagem dos chats na internet, que para diminuir o tempo de digitação tem sido criados diversos símbolos como ?vc? para ?você?. As relações de letra e som no português são muito complexas porque quem lê, lê no seu dialeto, e os dialetos vão se diferenciando com o tempo, as formas ortográficas passam a ser lidas de maneiras diferentes e o sistema de escrita vai se tornando cada vez menos alfabético e mais ideográfico. As relações entre as letras e os sons da fala é sempre muito complicada pelo fato de a escrita não ser o espelho da fala, porque é possível ler o que está escrito de várias maneiras, e há muitos ideogramas que usamos como o R$ (real), @ (arroba), ( ) (parênteses), logotipos, marcas e placas que também pertencem ao nosso sistema. Cagliari (1990) afirma que apesar de nossa escrita conter elementos ideográficos, ela é fundamentalmente alfabética, tendo como base a letra. Isso precisa ficar bem claro, porque é uma prática comum, nas classes de alfabetização, usar a sílaba como base, trazendo confusões e dificuldades para as crianças. Consideramos corretas as práticas didáticas que consideram a letra como base para o ensino da língua escrita em situação significativa para as crianças, isto é, que a criança saiba o que é para fazer, qual a finalidade, uso e propósito. Nossa prática nos faz crer que iniciar pelo nome das crianças é significativo para elas porque o uso gera interesse, como a utilidade de marcar suas coisas. Comparar o nome das crianças, confrontando as semelhanças e diferenças, discutindo sobre quais letras se escreve este ou aquele nome ou como se escrevem as letras, proporciona às crianças a construção do conhecimento sobre a escrita. CAGLIARI, L.C. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1990. Escrito por Iara Rodrigues Alho Lopes Mestre em Semiótica, Tecnologia de Informação e EducaçãoPrêmio Victor Civita 2007 - área de história
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