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O Museu Imperial e a memória nacional


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            Myriam Santos apresenta a construção de uma memória coletiva sobre o Império, durante regime de Vargas, através da criação do Museu Imperial. O Museu Imperial foi criado em 1940, a partir da disputa entre os projetos modernista e conservador, nos anos 30.  A problematização da identidade brasileira teve início com o fim da I Guerra, quando a Europa começa a ser vista como decadente e a América simboliza o novo com a ascensão dos EUA. Surgindo uma atitude de rejeição a imitação da cultura européia, resumida na fala de Mario de Andrade, ?nós éramos os filhos finais de uma civilização que se acabou?, o que levou intelectuais e políticos a olharem para o Brasil e distinguirem o país ideal do real. No Brasil real foi encontrada uma população doente, sem saneamento e analfabeta, representada na figura do Jeca Tatu de Monteiro Lobato e, paralela a essa percepção, havia a influência do movimento modernista de 1922 trazendo temas nacionais marginalizados como o caipira e o nosso folclore.


            Os projetos modernista e conservador, frutos dessa redescoberta do Brasil,  possuíam em comum a procura pela construção da identidade brasileira e a ruptura com o modelo cultural europeu. Myriam Santos sintetiza suas diferenças, os primeiros buscavam ?reelaborar o passado de forma a construir um perfil autônomo, crítico e libertário para a nação?, em oposição aos conservadores que ?criticavam o conhecimento teórico e livresco dos modernistas e contrapunham à ele a intuição?. Por intuição entendo pensar a cultura brasileira partindo dos elementos apresentados pelo Brasil real e a partir da apropriação desses elementos, desenvolver projetos em que população se enxergasse. Exemplifico com o samba, visto como desqualificado:  ?A partir de 1935, os desfiles das escolas de samba  foram oficializados, o que significou receber subvenção regular da prefeitura e ter um dia e um local certos dentro do programa oficial de carnaval, elaborado pelo Departamento de Turismo<1>?. O projeto conservador foi o que serviu de orientação à política cultural do Estado Novo, e nele está inserida a criação do Museu Imperial com apoio de Vargas.


O Museu Imperial construiu uma história-memória do Império, fundamentada no acervo composto por doações de famílias cujos antepassados freqüentaram a corte. Os objetos foram organizados e expostos nos cômodos da residência de verão da Família Real com a finalidade de reproduzir uma corte idealizada, refletindo a construção de identidade desses grupos que se fundiu ao do próprio museu. O período imperial selecionado para a construção de sua memória correspondia à fase vivida pelo regime varguista na década de 40, de estabilidade e apogeu. Assim como a imagem do Império tinha como eixo a figura do imperador Pedro II, o Estado Novo estava sendo construído em torno da figura de Getúlio Vargas, e se fundindo à idéia de nacionalismo.  Do mesmo modo que no Museu Imperial, o Estado Novo selecionou imagens em torno de Getúlio sobre trabalho, liderança e proteção aos pobres para a composição de uma identidade do regime e que se transformou em memória coletiva.   


No Museu Imperial, a memória do Império se confunde com o período marcado pelo predomínio Saquarema, enfocando Pedro II  como o responsável pela unidade nacional. No Estado Novo, a imagem de Getúlio era elaborada como o grande líder do povo. A construção da memória do Império, através do Museu Imperial,  pode ser vista como uma metáfora da construção do Estado Novo, através da imprensa. Para ambos foi criado um cenário ideal, uma imagem em vez de um retrato,  mas que se fixaria como memória coletiva a partir de outras memórias.


Na década de 60, após a inauguração de Brasília, o governo JK também construiu uma memória da Primeira República e da República de Vargas, com o mesmo colorido do Museu Imperial,  a partir do palácio do Catete e ex-residência de Vargas. Transformado em Museu da República, a organização de seu acervo visava projetar a República pela suntuosidade e austeridade, além de indicar com sua transformação em museu que a Era JK simbolizava novos e modernos tempos. Assim como no Museu Imperial a peça de destaque era coroa de Pedro II, no Museu da República foi colocado em exposição o pijama com o furo da bala que matou Getúlio. Ambos buscavam emocionar e  a partir a emoção construir uma memória.  Tanto a  orientação política do regime varguista, como a política dos ?50 anos em 5? de JK, a coroa de Pedro II ou o pijama de Vargas, ambos buscavam acentuar a impressão e embotar a reflexão.


A partir da aceitação do museu pelo público e do ensaio de Maria de Lourdes Horta, sobre o Museu Imperial não ter como proposta uma narrativa e como nacional, ?unidades culturais de significados compartilhados pelos cidadãos brasileiros, de signos que compõem o sentido maior da brasilidade?,  cabe citar João do Rio: ?Nenhum desses grupos intitula-se republicano. <...> Porque a massa é monarquista. Em compensação abundam os reis, as rainhas, os vassalos, reis de ouro, vassalos da aurora, rainhas do mar...?.   


A memória do império construída pelo Museu Imperial é um signo maior que se compõe de outros signos. Coroa, reis e rainhas são signos interiorizados pela população e ordenados pelo museu compondo uma representação coletiva sobre o Império. Os objetos selecionados pelas famílias assim como a coroa tatuada pelos negros são signos que irão compor o signo maior que é a memória do Império construída pelo Museu Imperial e  que ganhou a amplitude de uma memória nacional.  





<1> SOIHET, p. 142.





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