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Retrospectiva


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E depois continuei a ter fome de letras belas como quando só se come uma vez por dia, porque sendo assim nem mesmo quem é rico consegue empanturrar-se com textos e mais textos que não são mais do que sopas de letras destemperadas, sem sal nem consistência.

Era muito pequeno e já queria ser grande, pensava que um dia seria

Como o astro da tv, porque tinha uma cara bonita e falava bem.

Mas sentava-me à espera, uma quimera, era o que era?

Brinquei com todos, até com a rapariga dos cabelos de ouro, que eram um tesouro. Sentia-me feliz porque, como qualquer petiz, gostava muito de jogar à bola. Marquei 3 ou 4 golos. Rematei mesmo com força. Acho que foram 3.

Saudade da bola.

Mas também quando era domingo ia à missa e ficava sempre cá atrás. O padre era gordo e consta que teve cancro na garganta. Mesmo assim continuava a falar. Mas não falava muito bem, porque as velhotas tinham os olhos parados. Quase fechados mesmo, só sabiam quando era para levantar. Eu não gostava de estar de pé. Só quando jogava à bola. Nunca ia tomar a hóstia, porque ficava colada ao céu da boca. Mas as velhotas iam. E algumas até aceitavam a hóstia com a mão.

Ia sempre presente à catequese ler textos muito pouco belos sobre Jesus. A catequista não era bonita, mas fui escolhido para ler na comunhão. Foi o padre gordo.  Afinal foram 4.

Às vezes perco-me na bruma dos objectos que me lembram de uma estrela que via quando assistia ao programa a preto e branco. Era noite e havia água. Não era preciso ir ao encontro do medo que no escuro sussurrava ameaças mortais.

Uma lança no peito recebia no leito de farrapos. Artefactos de pobreza que nem sempre vinham para a mesa.  

Mas até via estrelinhas quando fechava os olhos brilhantes secos de lágrimas vindouras. Porque raramente chovia neles. E quando havia chuva era passageira e sem substracto. 

Sei que agora há horas que vejo douradas e horas que me fazem olhar para o vazio pungente onde coloco o coração. Um dia pára e finda a dor.  A dor que abençoa muitos dos que não a suportam porque a têm por companheira eterna.

Realmente hoje não há sol que me aqueça.

Talvez à noite adormeça e embale pelo campo fora.

 Vou marcar 5 e acordar feliz.


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