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O MEU AMIGO JOÃO SILVA


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O MEU AMIGO JOÃO SILVA

O João da Silva da taberna foi um grande amigo. Tinha a  mais antiga e  a melhor taberna de S. Brás de Alportel. Quando as coisas não me corriam bem, aparecia na taberna do João, contava as  minhas mágoas e bebíamos um copo. Às vezes bebíamos um ou dois a mais e quando era assim, eu, que tinha a mania  que era fadista, cantava o fado da burra. A burra leva-te acavalo/Quando ao sábado vais  a Loulé/Já vou bêbado quando abalo/Mas a burra sabe onde é..

O Pai do João, o Domingos Silva Gomes, era um homem que via mosquitos em Braga  e por isso lhe chamavam o ?Quatro Olhos?. Eu, que tinha confiança com ele, às vezes,  perguntava-lhe para o arreliar, ó Domingos  quantos olhos tens? Vai-te embora ó ?badio?, dizia-me ele. E eu fugia para  meio do Largo, escondia-me por detrás da estátua do Bernardo de Passos e começava a cantar o fado, aquela, ?Morrem os ricos dobram os sinos/ Morrem os pobres não há dobres/Que Deus é esse dos padres/ Que não faz caso dos pobres. E o Domingos berrava à porta da taberna do filho: és contra a Republica ó thalassa

O  João tinha,  à semelhança  da Taberna, ao lado, a melhor mercearia da terra. Era a mercearia do ?Quatro Olhos?, que, ainda hoje, muita gente em S. Brás se há-de lembrar disto. Mercearia fina era com o João. Ao lado, num recanto, tinha uma carvoaria onde estava o Mateus, um puto da serra que vendia o carvão e  roubava no peso. E depois introduziu também no negócio a venda de fardos de palha. A coisa dava para os dois, para o patrão porque o Mateus era bom no peso a menos  e para o cliente, também era bom, porque o  Mateus cantava como um rouxinol e era um artista a cantar os  tangos Carlos Gardel. Te adoro, dizia o puto às mulheres.Um tio dele, que tinha vindo da Argentina, tinha-lhe trazido umas cópias  e uma grafinola. Como dormia no palheiro e aquilo era incómodo, às cinco da manhã já o Mateus andava de grafinola às  costa a aprender as letras do Gardel e cantava às clientes depois da velha roubalheira do costume, no peso.    

Uma vez perguntei-lhe, muito trabalho, Mateus. E ele,, óh homem, sabes lá.... E, em pose de fadista, dizia-me: Estas velhas dum ladrão/nem me deixam descansar/ Ora palha ora carvão/Estão-me sempre  a chatear.

Um dia o Manuel Pinto das Almargens, trouxe  a guitarra e às tantas, o Joaquim  Lipardo  um alentejano que vivia na Mesquita e que mais tarde assentou praça em Vendas Novas, donde tinha acabado de chegar, magro que nem um cão, disse para o Manel,  sai fado Vianinha e cantou assim: Se tu me visses Maria/ Só tenho a pele e o osso/ de fazer aquilo que fazia/ Nos temos em que era moço.   

E vai mais um copo  pediu o Lipardo e  disse para a rapaziada.. Tenho trabalho para vocês ó malta, arranjei aí um patrão, que me dá um fato se eu limpar um pinhal que ele tem lá para os Machados. Quem vai comigo ó maltezes?....ninguém quer ir ... pois vou eu e daqui a um mês, ó Manel, apareces aqui com a guitarra que a gente faz uma festa e eu canto o fado do fato.

Eram dez horas da manhã quando a malta se foi embora. Ó Manel daqui a um mês trazes a guitarra que aqui o Joaquim traz o fato novo vestido e pronto E assim foi feito, trinta dias  depois, a malta brava voltou à taberna, o Manuel Pinto estava lá,  entrou o Lipardo, fato velho, cantando ao som da guitarra do Pinto: ?O fato que me ofereceste/ Quando fui teu empregado/Está mais novo do que este/ Muito tempo tem durado/ Ainda ontem quando entrei/,Lá na loja do Chiado/Vi o fato que ganhei/ Quando fui teu empregado/ Já disse à minha Patroa/ Que o traga bem escovado/ O  que faz ser roupa boa / Muito tempo em durado.

SOUSAFARIAS




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