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Dirigindo no Escuro


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Comédia. Ao receber o roteiro de "A Cidade que Nunca Dorme", Ellie indica a seu noivo, o executivo Hal Yeager dos estúdios Galaxie, o nome de Val Haxman para a direção. Ex-esposa de Val, Ellie considera o diretor, tido como difícil e afastado há anos dos sets de filmagem, o único capaz de transformar o roteiro num grande filme. Ele, por sua vez, contando com uma retomada de sua carreira, resolve engolir o trauma por ter perdido a esposa para o futuro patrão e aceita o convite. A dois dias do início das filmagens, porém, o hipocondríaco Val é acometido de uma cegueira psicológica, mas com a ajuda de seu agente, Al Hack, planeja esconder de todos o problema, dirigindo o filme mesmo sem enxergar um palmo diante do nariz, apenas guiando-se pelos conselhos do agente. Isso até o momento em que a presença de Al é proibida nos locais das filmagens.

Para alguns, a revolta faz um bem danado. Depois de brigar com a produtora, mudar de estúdio, fazer dois filmes que deixaram a desejar e amargar a queda de público nos EUA, o diretor-autor Woody Allen parece ter recuperado a forma que todos adoramos. Sua maior aptidão, a capacidade de transpor para a tela os prazeres e as agruras de sua vida particular, volta e meia gera acusações de repetição e desgaste de fórmula. E, de fato, o ritmo de trabalho que o leva a realizar um longa-metragem por ano nem sempre resulta em boa coisa. O Escorpião de Jade e Trapaceiros, os dois anteriores (e primeiros pelo estúdio Dreamworks, de Steven Spielberg), não passam de marcação de ponto. Pouco inspirado e com aparente necessidade de agradar o grande público, o autor mandou duas comédias despretensiosas que, ainda que se ache em uma ou outra cena a mão brilhante de Allen, não fazem rir.

Dirigindo no Escuro é ótima recuperação. A língua afiada, de onde brotam comentários mordazes sobre a política e a cultura norte-americanas, voltou das "férias" revigorada. Nesse aspecto o filme lembra um dos clássicos do diretor, o recente Desconstruindo Harry, pela velocidade com que vai beliscando tudo e todos, incluindo o próprio Allen. Aqui, o protagonista, que vinha de dirigir comerciais de fraldas geriátricas, mal é convidado para o novo projeto e já quer fazer tudo "em preto-e-branco e com trilha sonora de Cole Porter". Contrata um fotógrafo chinês que ninguém entende, e um diretor de arte que quer reconstruir Nova York inteira em estúdio. Não faltam farpas à imprensa na figura da jornalista que acompanha as filmagens (e serve também de narradora), nem aos atores burros, como a namorada que só pensa em malhar e leva uma noite inteira para decorar um único gesto.

Mas o filme não é só crítica. Há também melancolia em Woody Allen, que volta a tratar dos desmantelos das relações amorosas. Extremamente feliz é o diálogo entre Ellie e Val, quando ela diz que "dois terços dos casamentos são mantidos pela inércia", ao que ele responde: "É. Mas o resto é amor mesmo". Em imagens visualmente mais trabalhadas do que de costume, Allen discorre mais uma vez sobre relacionamentos desfeitos e refeitos, sobre a necessidade de olhar o passado e saber reconhecer tanto as mudanças quanto as permanências, principalmente se entre aquilo que permaneceu está o amor. O amadurecimento que leva à reconciliação é visto também no contato de Val com o filho punk, cuja amizade / amor andava abalada.

A outra notória paixão do autor, a cidade Nova York, é aqui reafirmada na linda cena em que Val recupera a visão, dando de cara com a cidade banhada de sol. Bom exemplo de beleza sem maquiagem. Nada, no entanto, que se compare à beleza da protagonista Téa Leoni, um espetáculo a que não se resiste. Olhar muito para esta mulher chega a ser perigoso, atordoante, e causa sérios riscos de paixão desenfreada. Depois desse filme, Woody Allen até pode fazer, nos próximos dois anos, alguns filmes menores, que seu público (seja americano, francês ou brasileiro) saberá entender. A destacar, ainda, a hilária seqüência da reunião (a sós) do diretor cego com o executivo Yeager, e a referência ao Brasil.


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