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Análise Iconológica do filme Adaptação


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A obra de arte analisada é o filme Adaptação, estrelado por Nicholas Cage com roteiro de Charlie Kaufman e Donald Kaufman e dirigido por Spike Jonze.

No primeiro nível de compreensão da obra, ou seja, aquele que explode ao olhar e é acessível a qualquer cultura, temos o seguinte:

O filme conta a história de um roteirista de Hollywood que após a filmagem de Quero ser John Malcovitch, seu primeiro roteiro, é contratado para fazer uma adaptação para o cinema de um romance best-seller. O protagonista sofre de baixa auto-estima e tem dificuldades para escrever o roteiro. Possui um irmão gêmeo, Donald, que, muito mais extrovertido e confiante, resolve que também se tornará roteirista de cinema. Charlie, o protagonista, quer fazer um filme sem grandes explosões ou acontecimentos exorbitantes, como é de prática nos filmes norte-americanos, optando por uma narrativa morna e constante. O irmão faz um ?curso de roteiro em três dias? e escreve o seu, que é aprovado. Em um certo ponto, Charlie acaba cedendo e faz o curso e pede ajuda para o irmão em tornar a adaptação mais interessante. Donald convence Charlie a vigiar Susan, a autora do romance, o que o faz descobrir que ela tinha um caso com John, o homem que inspirou o personagem de seu romance, além deles estarem envolvidos com tráfico de drogas. Susan e John acabam perseguindo os irmãos. Donald e John morrem e Susan é presa. Charlie entrega o roteiro, resolve seus problemas de baixa auto-estima e beija a mulher por quem é apaixonado.

No segundo nível de compreensão temos a temática do filme. Adaptação mostra as peculiaridades do processo de criação e a problemática do artista em expressar aquilo que ele realmente deseja expressar contra expressar aquilo que é comercialmente expressível. Em Benjamin (1969), temos a seguinte consideração de Brecht: ?Do momento em que a obra de arte se torna mercadoria, não se pode mais aplicar a ela a noção de obra de arte; devemos então, com prudência e precaução, mas sem medo, renunciar à noção de obra de arte, se quisermos conservar a função do objeto que pretendemos designar?. Trata também das peculiaridades do ser humano, suas inseguranças e atitudes. Trabalha também o pensamento das pessoas, mostrando que temos pensamentos ocultos que não queremos que ninguém tome conhecimento de sua existência, ou mesmo que nem sempre conseguimos comunicar aquilo que pretendemos.

O terceiro nível de compreensão da obra trata da linguagem utilizada na obra. Adaptação possui uma linguagem não-linear, sendo que em alguns momentos são mostrados trechos do Romance e em outros a trajetória do roteirista na adaptação do livro para o cinema. E mais do que isso, o filme é metalinguagem pura, já que conta a história do próprio Charlie Kaufman escrevendo o roteiro do filme em questão. Adaptação conta a história do roteirista de Adaptação escrevendo Adaptação. Metalinguagem sobre metalinguagem. Podemos dizer neste ponto que os três níveis de compreensão se confundem devido à essa dinâmica narrativa ímpar. Não se sabe até que ponto a história contada é realidade ou ficção. E vale ressaltar uma passagem interessante que dá uma guinada na narrativa do filme que é o momento em que Charlie pede ajuda a seu irmão para escrever o roteiro. O filme, que até então, vinha num ritmo constante (como era a proposta de Charlie em seu roteiro) para a ter cenas de ação Hollywoodianas (como Donald tinha aprendido no curso). E mais do que isso, antes desse ponto, Donald parecia um medíocre (visão que Charlie tinha dele). A partir de então, passa a parecer alguém mais respeitável. E nessa passagem, Donald lê o que tinha sido escrito até então e comenta que o irmão o personificou como um idiota. Isto mostra que a realidade é contada a partir de diferentes pontos de vista. Uma mesma história será contada de formas distintas dependendo de quem as conta, assim como a imagem que uma pessoa projeta nas outras, variará de acordo com aquele que observa. De acordo com Moscovici (2003), ?pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si mesmos, produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas representações, e a solução às questões que eles mesmos colocam?.?Os processos perceptivos-cognitivos, enquanto fisiológicos, também são pessoais ? não se trata de um mundo que a pessoa percebe e constrói, mas de seu próprio mundo ?, e levam a, estão ligados a, um eu perceptivo, com uma vontade, uma orientação e um estilo próprios?.(Sacks, 1995: 149). O filme inova no sentido de que confunde ficção e realidade, já que nem todos seus personagens são fictícios e os elementos narrativos carregam referências da realidade objetiva, tais como o filme Quero ser John Malcovitch.
P.S. O irmão de Charlie Kaufman, Donald, que assina como co-roteirista do filme é fictício.
Bibliografia:
BENJAMIN, Walter. A obra de arte no tempo de suas técnicas de reprodução. In: VELHO, Gilberto (org.). Sociologia da arte IV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1969.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003. SACKS, Oliver. Ver e não ver. In: SACKS, Oliver. Um Antropólogo em Marte:sete histórias paradoxais. São Paulo, Cia das Letras, 1995.


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