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A teoria do romance


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Ao iniciar a sua obra, A teoria do romance, Lukács fala-nos de um tempo em que não havia filosofia, pois todas as explicações eram encontradas nos mitos. Segundo o autor, esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas. Esse é o contexto em que surge a epopéia, gênero que reflete plenamente a forma de pensar e de sentir do homem da época. Assim, o mundo grego nos é apresentado de forma homogênea e fechada. Em outras palavras, é perfeito e, portanto, estático, ao contrário do nosso mundo atual que, cada vez mais vasto e rico, perdeu em totalidade o que ganhou em abrangência. Essa é a razão pela qual Lukács afirma a impossibilidade de produzirem-se epopéias nos dias atuais, pois o homem grego vivia no equilíbrio de uma estrutura fechada, que se relaciona com o gênero épico, enquanto o homem atual rompe com essa harmonia e o mundo passa a apresentar-se com uma estrutura incoerente. No universo grego, o homem não conhecia solidão. A tragédia conseguiu permanecer intacta em sua essência, embora tenha sofrido algumas mudanças. A epopéia, por outro lado, desapareceu, dando lugar ao romance. O que difere a epopéia do romance é o fato de que este último pertence a uma época em que a totalidade da vida já não é mais evidente. A epopéia apresenta-nos uma totalidade acabada para si mesma, enquanto o romance tenta descobrir essa totalidade. A forma romanesca contrapõe-se à infantilidade normativa da epopéia, mostrando uma força amadurecida. O romance compõe-se por uma fusão paradoxal de fatores heterogêneose descontínuos, tendo sua coerência alcançada por meio da forma. Se a epopéia mostra o homem em perfeita harmonia com seu universo fechado, o romance indica o rompimento dessa consonância. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado. Lukács destaca quatro momentos nesse gênero. No primeiro, o herói é um visionário que se sente menor que o mundo, solitário. Isso acontece em razão de uma inadequação entre a alma e a obra literária, entre interioridade e aventura. Observa-se assim, um caráter degradado do herói problemático, que mostra uma inaptidão que impede a realização do ideal. A isso Lukács chama de idealismo abstrato, e cita como exemplo a obra D. Quixote, de Cervantes. Um segundo momento seria o que o autor denomina romantismo da desilusão, no qual o herói é apresentado como um ser desajustado, em conflito com o mundo. Nesse caso, há uma tendência, por parte do indivíduo, de buscar uma fuga das questões conflituosas e das lutas exteriores. Werther, de Goethe, é o exemplo apresentado por Lukács. Há, ainda, o que chamamos de anos de aprendizado. Nesse caso, o herói sofre, entretanto, aprende com as experiências da vida e, por isso, consegue realizar algo de positivo. Lukács chama a esse terceiro tipo, de romance de educação. O indivíduo situa-se entre os dois tipos apresentados anteriormente, abordando a reconciliação do homem problemático com a realidade concreta e social. Wilhelm Meister, de Goethe, retrata, segundo Lukács, essa espécie de romance. No quarto tipo, Lukács cita o russo Tolstoi como sendo o representante maior da epopéia moderna. Essa é a literatura da superação das formas sociais de vida, e o herói atua sobre a sociedade para ajustar-se a ela. Mas essa superação não consegue resolver os problemas inerentes ao homem moderno. Ao contrário, acentua-os, ficando muito longe da realidade sem problemas da épica.

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