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O Humanismo Português - Dicionário de História de Portugal
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O termo humanista, de 1540, torna-se corrente em meados desse século, significando todo aquele que é versado no conhecimento das línguas e das literaturas antigas, sobretudo gregas e latinas. Já o Humanismo surge apenas na segunda metade do século XIX.
Convém não confundir Humanismo com Renascimento. O Humanismo é apenas uma das causas do Renascimento, um dos elementos que o integram, e não a sua causa única: paralelamente ou posteriormente ao descobrimento da Antiguidade Clássica, outros elementos vêm completar o que se designa de Renascimento: a Reforma, o racionalismo, uma nova concepção da vida, a expansão ultramarina, o progresso da técnica.
Não houve um humanismo, mas humanismos e, sobretudo, humanistas. O humanismo é, antes de mais, o descobrimento da Antiguidade sob os seus múltiplos aspectos: literatura, arte, filosofia, ciência, história. Caracteriza-se pelo estudo directo dos textos, pelo desejo de cada se cultivar. O humanismo é pois, o conjunto de esforços no sentido de ressuscitar a Antiguidade Clássica.
Ressuscitando o pensamento antigo, o humanismo é um conjunto de valores estéticos, étnicos, pedagógicos e filosóficos que variam de autor para autor; é um novo estilo de vida, a exaltação do valor do homem e da sua obra individual ou colectiva. O homem é o centro de interesse.
Não houve propriamente ruptura entre o humanismo e o pensamento medieval. Simplesmente, tal não era a opinião dos humanistas. Estavam convencidos que a Idade Média deixara de ser humanista, e davam-se conta de ter entrado numa nova era, de ter passado das ?trevas? à ?luz?.
Os primeiros indícios dessa atitude em Portugal vislumbram-se na primeira metade do século XV, através de um pequeno número de traduções do Infante D. Pedro e outros.
Nos reinados de D. Afonso e de D. João II desenha-se uma nova feição, que se acentuará com brilho no segundo quartel do século XVI com a fixação na corte de três eruditos italianos - Mateus de Pisano, Estevão de Nápoles e Cataldo Sículo, de longe o mais importante dos três.
As origens do humanismo português são, tal como no resto da Europa, predominantemente italianas. Decerto numerosos portugueses haviam frequentado alguns dos importantes centros universitários estrangeiros, mas serão aqueles que no último quartel do século se matriculam nas universidades italianas que lançarão os alicerces do humanismo português - Henrique Caiado, Aires Barbosa, Martinho de Figueiredo.
É também a universidade parisiense que formará o escol do humanismo português. D. João III cria em 1527 um número avultado de bolsas no College de Sainte-Barbe e os portugueses não cessarão de aí afluir.
O período áureo do humanismo português coincide com meados do século XVI, quando a maior parte dos bolseiros volta ao país e ocupará os mais altos cargos na Universidade, nos colégios e mosteiros e na administração metropolitana ou ultramarina. Coimbra foi então o principal centro de humanismo. Funda-se então o Colégio das Artes para o ensino das Humanidades, cuja direcção é confiada a André de Gouveia, e aí ensinarão antigos bolseiros portugueses, e franceses e escoceses. Lisboa, privada da Universidade, limita-se ao círculo literário da Infanta D. Maria, e ao ensino dos moços fidalgos da corte. No Porto, o humanismo foi inexistente. Em Évora, onde a corte permanecia com frequência, reuniram-se em certo período humanistas portugueses, flamengos, e franceses, formados em Salamanca, Paris e Lovaina.
No juízo de valores sobre o humanismo português terá de ter-se presente a obra realizada no estrangeiro, mais importante, e a que o foi no país. Em Portugal publica-se pouco sobre a Antiguidade Clássica. As tipografias do século XVI, algumas pertencentes a estrangeiros (alemães, italianos, e franceses) imprimem pouco mais de mil e trezentas obras; só um pequeno número, porém, diz respeito à cultura greco-latina.
O humanismo encontrara-se perante o problema religioso e procurara uma solução para ele. Pretendendo a reforma da igreja, combatendo os abusos cometidos em seu nome, preconizava o regresso às fontes autênticas do cristianismo.
Foi o humanismo cristão, de que Erasmo foi o símbolo, que constituiu em certo momento um grupo numeroso, formado por portugueses e estrangeiros fixados em Portugal.
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