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Os Primórdios do Museu: da Elaboração Conceitual à Instituição Pública


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A historiografia recente vem debatendo a idéia de patrimônio e sua utilização, e o museu, intimamente ligado aos conceitos de nação, patrimônio e memória, está no centro dessa discussão. O museu, na concepção da autora, é a forma com que os povos querem se representar para os seus descendentes. São inferidas, ainda, outras três abordagens sucessivas, de Dominique Poulot, que marcaram a historiografia da sociedade e suas instituições culturais (entre elas o museu): a primeira relaciona a evolução natural das sociedades ao progresso da instituição; a segunda entende-as como instrumento de manipulação da opinião pública, com o objetivo de perpetuar a dominação; a terceira vê o acervo museológico como um repertório de imagens acabadas que interagem com o público por meio de trocas e apropriações diversas.
Existem várias interpretações sobre o processo de criação do museu: algumas leituras, como a de Habermas, indicam a criação de uma esfera pública (museu) que insira as produções culturais dos privilegiados, representando, portanto, o poder monárquico - ao mesmo tempo que aumenta a visibilidade desse poder. Já Roland Recht afirma que o museu é um espaço de exposição das obras dos artistas, levando em consideração os discursos do século XVIII sobre a arte, os quais afirmam que não se deve analisar a biografia dos artistas (como era no período Renascentista), mas sim partir da obra - o museu, desta forma, é o espaço que permite o acesso direto a elas, idéia bastante difundida, que inclui nomes como Diderot.
Em 1750 houve a criação do Museu de Luxembourg, uma tentativa de abertura das coleções reais. O museu fechou em 1778, mas no mesmo momento muitos debates e reivindicações de um museu no Louvre surgem, e o Conde d'Angiviller influencia a instalação de um museu real na Galeria do Louvre, criando um projeto que incentivaria o nacionalismo e patriotismo de todos, dentro do conceito de "arte útil".

O século XVIII, com a abertura de várias coleções privadas, gera um amplo debate sobre o que é, para quê e como serve o museu, suscitando idéias que constituem muito mais que um local de reunião e visibilidade de coleções.
No entanto, o museu começou antes do século XVIII. O Renascimento se volta para o acúmulo de objetos da Antiguidade greco-romana, e em seguida se estendem para objetos díspares. Esse gosto das curiosidades é bastante prestigiado na Europa do séc. XVII, e as coleções de História Natural tentam classificar os objetos colecionados - representando a tentativa de compor uma ordem racional do mundo. Durante o século XVIII essa ordenação migra também para as outras coleções, como as artísticas e históricas.

Enquanto essas idéias surgiram primordialmente na Itália, a região da Germânia desdobra o tipo de arquitetura que deve abrigar essa instituição, sendo escolhidos os modelos inspirados no Panteão Romano, sendo retomados em muitos outros projetos.
Já na França a materialidade da instituição demora a ser feita; é especialmente durante a segunda metade do século XVIII que há uma tomada de consciência em relação ao museu, vinda do exterior, sobretudo da Itália.
A materialização do museu, contudo, dar-se-á na Revolução Francesa: a maioria dos autores destacam três decretos da Assembléia Nacional como os criadores do museu público na França - a nacionalização dos bens da Igreja Católica, o confisco dos bens dos emigrados e a supressão das Academias. A priori essas riquezas seriam vendidas, no entanto destaca-se necessidade de inventariar e preservar os bens; surge então o Louvre, o museu de antiguidades nacionais e a rede de museus departamentais.
Nesse momento, a cultura é vista como uma forma de consolidar o movimento político existente, e durante os anos do surgimento de museu, as falas sobre ele enfatizam a importância como meio de consolidar a Revolução e os novos valores em uma abrangência para além das fronteiras francesas.
Outras discussões técnicas e teóricas foram travadas, como a necessidade de inventariar e catalogar as riquezas nacionais e estabelecer com clareza o objetivo da instituição, mas Fonseca Brefe afirma que é o caráter altamente político o evidenciado em seu primeiro tempo.

O tema a ser tratado a seguir é o caráter técnico e funcional do museu. Ele é definitivamente vinculado à escola; sua imagem de conservatório e local de estudo e produção do conhecimento surge de maneira clara, ha método para inventariar e classificar o patrimônio; há a banalização da arte (em vista de abranger todos os domínios do conhecimento).
A autora destaca que este trabalho se elabora conjuntamente a uma doutrina de que a Revolução é dominadora da História, e tem o direito de recolher e ordenar o patrimônio até então produzido.
Desse período que datam as pilhagens dos patrimônios alheios, consideradas pela autora como "saques de guerra", mas vistos na época como repatriações. Quatremère de Quincy abre uma polêmica a respeito dessas posições - ele afirma que as obras dos museus se convertem em símbolo da glória da nação francesa, tal como se fazia com os saques da Antiguidade.

Concluindo, a autora diz que a discussão mais profícua a qual a abertura do museu público pôs em jogo é a respeito da metamorfose dos objetos e das obras no espaço do museu - e que é preciso avançar na investigação, pois essas instituições são lugares-chave para se entender as sociedades modernas e a forma pela qual elas se fazem representar. Propõe, ao final, a investigação da importância cultural e inserção política do museu em dada época e sociedade.




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