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O Mal-Estar da Pós-Modernidade


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Em uma de suas obras clássicas, o ?O Mal-Estar na Civilização?, o psicanalista Sigmund Freud concebeu um mundo futuro regido pela segurança no qual uma ordem social extrema daria incontestável forma a um desejo coletivo de controle e justeza. A estabilidade social romperia o fluxo ininterrupto do afloramento dos instintos; a sexualidade e a agressividade, e outras volições humanas na modernidade sofreriam com a renúncia que o processo civilizatório exige, mas os seres humanos a acatariam por um pouco de felicidade, para não perder a segurança iminente nesse arcabouço de perigos em um trajeto desconhecido. Para Freud, o homem moderno preferiu o conforto da segurança ao contínuo jogo das contradições: bem-estar com sofrimento, prazer com culpa, etc. No pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em particular no livro ?O Mal-Estar da Pós-Modernidade?, publicado em 1997, encontraremos um mundo repleto de incertezas onde o ser humano troca à segurança, outrora desejada, pela liberdade, mas não uma liberdade qualquer: a liberdade individual engendrada por uma vontade suprema. Bauman classifica esse momento de ?pós-modernidade?, um estado de insegurança, de medo generalizado (universal), de tecnologia excludente, de ameaças constantes e desemprego crescente. Tudo mudando repentinamente, em velocidade ?galopante?, não há escalas, somente aceleração. Mudanças econômicas, políticas, culturais constroem (e afetam) um cotidiano ambivalente, onde o problema da identidade, ou seja, o sentimento de imcompletude, de vazio é mais um a aturdir os humanos ?pós-modernos?.

Bauman divide seu livro em quatorze capítulos e um pósfacio. De maneira ponderada, mas contundente, o sociólogo polonês mostra como políticas voltadas para o bem-estar e o amparo dos desafortunados financeiramente foram escamoteadas e esquecidas pelo poder público, o que gerou, não mais como na modernidade, ?um exército de reserva de mão-de-obra?, e sim uma ?população redundante?; um grupo de excluídos condenados por não serem consumidores. O ponto nevrálgico da ?pós-modernidade? é o abandono de qualquer ?interferência coletiva no destino individual, para desregulamentar e privatizar?, com diz o autor no capítulo I, ?O Sonho da Pureza?.

Bauman discute ainda temas precípuos para a atualidade como moralidade, justiça, criminalização da pobreza ou dos excluídos, arte, cultura, verdade, consumismo, sexualidade, religião, terrorismo, etc. As incertezas apontadas por Bauman contagiam todos os setores de atuação humana. Os tópicos que nos regem (e fomentam o ideal de liberdade totalizante) são o de mercado consumidor, competitividade, indiferença, verdades múltiplas (o que dá a experiência ou a sensação de pluralidade), que salientam diferenças, mas busca enquadrá-las, culturas que tentam se manter incólumes em meio à globalização, mas saturada de produtos para consumo rápido, liberdade de escolha que não alcança a satisfação prometida, plastifica-a, pois parece impossível o prazer absoluto nesta época de movimento, de oportunidades, de turista, como revela Bauman, os heróis da ?pós-modernidade? em detrimento às suas vítimas, os vagabundos que têm como ?função? lembrar ao turista como ele é afortunado; o vagabundo é uma inconveniência necessária, pois vítima, de sorte detestável, faz com que o poder aquisitivo, o poder de decisão, a propriedade sejam melhores saboreadas.

O complexo e instigante pensamento de Zygmunt Bauman formam um itinerário das catástrofes e das diferenças pungentes entre os homens. Num mundo de guerras preventivas e consumismo exarcebado, entender como o público e coletivo cederam um espaço abissal para o privado e individual requer a análise vibrante ao mesmo tempo serena que Bauman apresenta. As novas formas de comunitarismo (nos quais estão incluídos o nacionalismo e o fundamentalismo religioso ? e até terrorista), neste mundo onde o homem sonha com o prolongamento de sua vida, essas formas de comunitarismo são tentativas legítimas de combater os excessos da liberdade, da falta de ética, da invasão de um livre mercado internacional (onde os países desenvolvidos fazem as regras)? O mundo ?pós-moderno? nos desafia a refletir sobre os benefícios da troca de segurança pela liberdade individual, pelo explícito desfrute da sensação da posse de nós mesmos. Mas é bom nos perguntarmos, até onde vai essa posse, qual o limite que ela atinge? 



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