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Vidas Desperdiçadas


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Nesta obra de 2004, Zygmunt Bauman trata de assuntos quase que proibidos como se sugerissem ?tabus? que não deveriam ser debatidos: o principal é a crise das relações humanas nesta ?modernidade líquida? como declara o autor. Bauman crê que o progresso econômico e o desenvolvimento urbano descontrolado geraram uma imensa massa de ?resíduos humanos?, ?populações supérfluas?, conceitos caros ao sociólogo. Num mundo, onde as pessoas, a mídia e as instituições que formam o aparelho estatal cobram e preveem o sucesso, temos um universo de emigrantes, refugiados, exilados e de seres humanos expulsos de suas terras. Um problema que gera um conflito nos países considerados desenvolvidos que temem conceder asilos a essa população vitimada pela guerra, pela situação de extrema penúria. A esse contingente populacional é destinado um tratamento de desconfiança, suspeita e temor; humilhados e relegados a perigosa posição de ?fomentadores de crime e ameaça terrorista?, veem o Estado cumprir não mais um papel de administração (uma de suas características, pois o mercado, a força da globalização o despojou de sua soberania), mas a função autoritária de coerção na qual a segurança promovida por ele deve aplacar a inquietude engendrada pela insegurança em relação ao estranho e o medo da ?superpopulação?, o receio evidente da mudança da forma de vida nas nações ricas. (então, o Estado reconquista um espaço de atuação, de soberania) Deve-se defender a qualidade de vida, os desejos criados e instigados numa sociedade de consumo.

O progresso econômico ou o processo de globalização criou muitos paradoxos que são frutos da exploração dos mais pobres (miséria e aumento da emigração) e das vantagens implicadas nos negócios financeiros dos mais desenvolvidos. Essa disparidade gerou o que Bauman chama de depósito que comportaria o excedente, ou melhor, o lixo desnecessário que precisa ser repelido, seja o lixo industrial ou as ?pessoas residuais? numa sociedade de consumo (desejo de posse) e do descarte ? outro paradoxo ? um mercado que possui líderes, mas tais são informes e ditam a regra de um mercado flutuante, porém rigoroso em suas exigências. Bauman avaliando o comportamento do mercado traça um paralelo com a nossa existência de laços, compromissos e contratos permeado por essa fluidez. Não devemos nos prender a um trabalho, a um caso amoroso, pois as portas não podem ser fechadas para as possibilidades. O sociólogo em ?Vidas Desperdiçadas? analisa ainda a fragilidade e a incerteza na crença de Deus, a inversão do tempo (extrapolação da mente humana) de criativo (imposição do capitalismo) em fastidioso (insipidez no trabalho e na vida pessoal por mais agitado que eles pareçam) e observa no fim as diferenças e semelhanças do ?Grande Irmão? do livro ?1984? de George Orwell e o ?Big Brother? atual fenômeno midiático onde o sentido de vigilância, julgamento, descartabilidade e triunfo da identificação são elementos fundamentais. Não se pode mais permanecer distante dos olhos do ?Grande Irmão?.

Bauman nos faz refletir sobre os refugiados dessa globalização desenfreada e insensível gestada por seres que prezam a velocidade e a indiferença. Os ?emigrantes econômicos? são um distúrbio, produzem a insegurança assim como o mercado produz em larga escala o temor nos países desenvolvidos gerando ?parias e proscritos? em países flagelados, e internamente ?consumidores falidos?, conseqüência comum e desumana que traz ao cenário do jogo internacional a inclusão e a exclusão e, também, o ?estar dentro? e o ?estar fora? da ?modernidade líquida?.

Zygmunt Bauman nos provoca à reflexão sobre o desemprego, o medo acerca dos relacionamentos, às agruras do asilo político, a questão das fronteiras, o massacre do capital perante os esforços humanos pela compreensão, a liberdade em choque com a insegurança e se problemas gerados globalmente podem ser solucionados localmente.

Até quando os ?resíduos humanos? (asilados, refugiados, pobres em países ricos) ficarão longe da pauta política do mundo contemporâneo de aflitivas e incertas mudanças culturais, sociais, geopolíticas, entre outras? Até quando serão tratados como ?efeitos colaterais? do desenvolvimento e do progresso econômico?



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